terça-feira, maio 06, 2014

Filmes em revista sumária #451


Sobre a célebre ordem dada por Hitler (Himmler?) ao governador militar de Paris no princípio do fim da Ocupação, que dá título à presente crónica, pensava-se que já se havia escrito e filmado o definitivo, desde logo pelas peripécias rocambolescas e suculentas de Porta e seus camaradas, no livro homónimo do dinamarquês Sven Hassel, ou no relativamente mastodôntico mas bastante bonito «Paris Já Está a Arder?», de René Clément, feito em 1966 com um batalhão de estrelas (o argumento era de Gore Vidal e F.F. Coppola!). E que por força disso, este «Diplomacia», do alemão Volker Schlöndorff, estaria condenado ao ostracismo. Contas furadas:

Não só a história à volta da ordem-que-não-foi-acatada continua atractiva e fonte de inspiração (assim haja voluntários nos tempos que correm), como do autor de «O Tambor» se espera sempre rigor e sobriedade, uma direcção de actores apurada e uma gestão do tempo imaculada, resumindo: filmes onde tudo está no sítio certo e todos sabem onde pisar e o que dizer, quando e de que forma. Dramaturgia filmada? Talvez, e daí?

Resumindo, ninguém sairá defraudado com esta nova abordagem ao criminoso plano de fazer explodir a Paris das luzes, como manobra de retirada militar. Além do mais, «Diplomacia» é um intensíssimo mano-a-mano entre dois veteranos do cinema francês, Niels Arestrup (meio dinamarquês…) e o resnaisiano André Dussolier, que incarnam na perfeição o general da Wehrmacht, Von Choltitz, e o cônsul sueco em Paris, Raoul Nordling. Digladiam-se em olhares e gestos, argumentos e palavras de uma elegância doutros tempos, encerrando em si mesmo um autêntico tratado de diplomacia, de uma diplomacia que hoje, quiçá, está obsoleta e seria incapaz de se repetir.


In O Diabo (6.5.2014)

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Gostei muito deste filme.
Duas interpretações brilhantes,que
nos enchem a alma.
M.Júlia

10:10 da manhã  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial