Filmes em revista sumária #429
Não será fácil, mas até perigoso, falar, ou melhor, tentar falar ou escrever sobre «2001, Odisseia no Espaço». Trata-se de um daqueles filmes que cada qual interpreta à sua maneira, consoante o experimenta em experiência visual e sensorial muito e só sua. Além disso, milhões de caracteres já terão sido escritos sobre ele. Aliás, como o próprio demiurgo Kubrick enunciaria amiúde, «You're free to speculate as you wish, about the philosophical and allegorical meaning of 2001».
Não especularei, portanto, acerca do enigma omnipresente, nem do monólito que do espaço cai por mão alienígena (Deus?) no planeta então dos macacos, permitindo-lhes, pela dádiva da inteligência, a argúcia e o engenho de, através de um simples raccord (o mais famoso da história do cinema?) de milhões de anos, viajar de um osso-arma na alvorada do homem a uma valsa galáctica algures entre a Terra e Júpiter. Muito menos irei especular sobre o reencontro do homem com o Homem, no grande final, para lá das cores e da luz, no Infinito.
Cingir-me-ei à beleza e à poesia de «2001, Odisseia no Espaço» e à experiência inolvidável que é voltar a vê-lo, cinema bigger-than-life, no grande écran, mesmo que sem respeitar o esmero obsessivo de Kubrick quanto às condições de exibição em sala (assim não fosse e talvez só se pudesse exibir no São Jorge a reprise actualmente em exibição em Lisboa); ao melhor filme de ficção científica de sempre (não será ele a própria sci-fi?) e a um dos melhores filmes jamais feitos, a par de «Citizen Kane», «E Tudo o Vento Levou» e «Casablanca», só para falar dos mais óbvios. E àquela técnica state-of-the-art , até hoje inultrapassável mas sempre decalcada. A HAL, talvez o mais ‘actor’ de todos. E Kubrick, que através de «2001» fez tanto por Nietzsche quanto por Richard Strauss, pela matemática e pelo xadrez.
«Open the pod bay doors, HAL».
2 Comentários:
Belo texto. 2001, só no grande ecrã. Ab.
Obrigado, Ricardo! Abraço
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