terça-feira, dezembro 03, 2013

Filmes em revista sumária #427


Não é qualquer um que sabe como manter o espectador pregado ao grande écran durante hora e meia, ininterruptamente, com apenas dois actores em campo (pas de deux), encerrados numa pequena sala de teatro (huis clos), sem ponto e num perigoso jogo de sedução, a partir da mítica obra de Sacher-Masoch (vale a pena a edição Livros do Brasil…). Polanski consegue-o em «Vénus de Vison». Conseguira-o em «O Deus da Carnificina» mas agora, reduzindo o elenco a metade, nos mesmos m2 de palco e nos mesmos 90’, acabou por dobrar o risco de flop, que só não aconteceu na parte final desta charge imaginativa (épatante, por vezes) ao ‘sou, não sou, podia ter sido se não fosse’, quando a encenação redundou num travesti grotesco desnecessário; graças à excelência com que dirige os actores (Malric é sempre soberbo mas Emmanuelle Seigner sem Polanski…), e, claro, aos acutilantes diálogos que vão brotando daqueles, compulsivamente inspirados em Masoch. Porque aquele volte-face tonto podia ter dado cabo de tudo o resto daquele sedutor teatro filmado, em fio-da-navalha, que é acompanhado ao piano por uma belíssima música de Alexandre Desplat (lembra Ligeti). Um ensaio sobre um outro ensaio, que decorre num teatro fictício numa Paris deserta e maravilhosamente húmida.


In O Diabo (3.12.2013)

2 Comentários:

Blogger Ricardo António Alves disse...

Muito bem!

ab.

7:23 da manhã  
Blogger Paulo Ferrero disse...

Tks, Ricardo. Tudo ok contigo?

7:25 da manhã  

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