Filmes em revista sumária #482
Com um argumento muito rebuscado, bastante inverosímil e piroso (em plena Depressão, um menino rico decide ser madeireiro nos confins dos bosques da Carolina do Sul, para ganhar dinheiro de modo a arrasar com o verde do Amazonas, tem um “fétiche” por matar onças e casa com uma amazona platinada, maculada por trauma de infância, por quem se deixa manietar até à loucura fatídica), «Serena» não consegue disfarçar o seu “handicap” da novela de quiosque foleiro, perdendo-se no meio do imenso arvoredo (fálico, como Bénard da Costa o apelidaria) que lhe serve de cenário natural. Muito menos chega sequer a tirar proveito do par de eleição que é a dupla de galardoados Bradley Cooper & Jennifer Lawrence, aqui nitidamente em férias de papéis “a sério”. Culpa de Susanne Bier, a realizadora.
Curiosa, e felizmente, tamanha empreitada do madeireiro Cooper, em prol da criação de emprego local e do progresso (onde é que já ouvimos isto?), esbarra sistematicamente na oposição decidida, ainda que pouco musculada, da liga da natureza lá do sítio, que está empenhada em evitar que tamanho empreendedorismo mande às urtigas aquele imenso património verde secular. Pelo meio há uma intriga amorosa digna de romance depressivo-obsessiva, muita gula e traição, boas fotos da paisagem, mas no final só ficam as árvores. Ainda bem.
Tobey Jones tem mais um daqueles papéis secundários que nos deixam revoltados com o facto dele nunca ter o principal, e há algumas cenas onde Jennifer Lawrence e Bradley Cooper (sobretudo ela, veja-se aquela dela sozinha no quarto de hotel, ao espelho, preparando-se para descer para jantar) dão um ar da sua graça, mas sempre q.b.
No cômputo final, «Serena» tem um título mais que do apropriado… e nestas coisas dos dramas rurais e montanheses durante e no pós-Crash de 1929, continua a valer muito mais um episódio da série televisiva The Waltons (1971-1981), para quem goste, claro, que não é o caso.
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