JFC - 'I know not what tomorrow will bring.'
De quem começou por escrever críticas de filmes para acabar a rodá-los e a ser vítima dos críticos. Que foi marca indelével no Cineclube Imagem. Que não terminou Direito, para se dedicar à Sétima Arte. Que foi assistente-estagiário de Antonioni e se sagrou como um dos pioneiros do nosso Cinema Novo (que ele próprio, por sinal, considerava não existir). Que foi fundador do Centro Português de Cinema. Que a “culpa” disto tudo foi de Welles e de “O Terceiro Homem”, a que assistiu da 1ª fila de uma plateia a abarrotar, no seu-nosso Eden. E que o seu legado são os seus filmes: a ficção, o documentário, a publicidade, as curtas e as longas-metragens.
E alguns dos seus filmes terão sido exibidos em sua memória, um pouco por todo o lado e à medida do tempo que quem de direito se permite dar a essa coisa da Cultura. Terão sido repescados documentários e recordados episódios da sua via pública e privada: a prisão pela PIDE, a Tóbis ou, porventura, a brutal agressão de que foi vítima (a “degola”, como lhe chamou) em 2012, quando regressava à sua Rua Nova do Loureiro (outrora “uma das mais belas de Lisboa, pelas suas árvores e pelas flores que pendiam dos muros dos quintais, mas hoje uma rua abandonada e triste, onde os empresários do imobiliário actuam a seu bel-prazer, sem a presença da Policia Municipal e na mais total desprotecção de quem nela habita”) e lhe encostaram uma navalha à jugular, o atiraram ao chão e o pontapearam sem dó nem piedade – “assim começaram para mim as Festas da Cidade”, ironizaria.
Por cá continuaremos enquanto pudermos, caro Fonseca e Costa, já com muita saudade dos seus alertas, “out of the blue”, dos seus insultos, amigos, também, e solidários da raiva que sentia sobre os que em tempos confiara.
Como Pessoa escreveu e JFC conseguiu que se colocasse à entrada do Hospital de Saint-Louis: “I know not what tomorrow will bring”.
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