terça-feira, outubro 06, 2015

Filmes em revista sumária #517


Nota prévia aos senhores das traduções: Matt Damon não está perdido em Marte, muito pelo contrário, tanta são as suas ideias luminosas (afinal, os botânicos servem para alguma coisa!) para inverter a irreversibilidade a que foi votado por acidente, pelo que traduzirem “The Martian”, o novel filme do prolífico Ridley Scott, por «Perdido em Marte» é pura ficção, científica ou não, que devia ser objecto de impugnação por quem de direito.

Com efeito, nesta espécie de versão espacial de «O Resgate do Soldado Ryan», Matt Damon - aqui completamente solto, assegurando que a monotonia não toma conta nem dos seus dias (sóis) nem do espectador -, é apenas um marciano, ainda que por obrigação, pois, como o próprio refere várias vezes, é o primeiro humano a lá ter quotidiano digno desse nome.

E como Ridley Scott sempre soube fazer bons filmes de ficção científica, «Perdido em Marte» não podia fugir à regra. E não foge. Acaba até por ser natural que o mesmo tenha sido rodado em apenas 70 dias, que a NASA, ela própria, tenha contribuído para o seu argumento, que tenha havido batatas de verdade a germinar numa horta do próprio estúdio e que, afinal de contas, este filme muito realisticamente acabe por ser premonitório de um futuro próximo, talvez muito mais perto do que todos nós possamos imaginar.

Longe de tentar ser blockbuster, «Perdido em Marte» consegue ser um belíssimo entretenimento para todos, sólido, linear, feito com o reconhecido bom gosto (disco sound incluída) de Scott, aqui muito bem-humorado, mas com os inevitáveis estereótipos deste tipo de filme: o patrão-vilão, a empresa que só pensa na imagem, a ingenuidade americana (ou será americanice pegada?) no que respeita ao trabalho em equipa, à cooperação sino-americana e ao reconhecimento mundial pela grande América, por exemplo.

«Perdido em Marte» é como que a coroa de uma mesma moeda, por contraponto com «Interstellar», a cara, de Christopher Nolan, estreado nem há um ano. E boa moeda, sim.


In O Diabo (6.10.2015)

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