terça-feira, setembro 22, 2015

Filmes em revista sumária #515


«A Visita», com apenas 4 actores a fazerem o pleno (avós e netos) e mais 1 em versão remota (mãe), e rodada praticamente na íntegra dentro de quatro paredes, deve ter saído a M. Night Shyamalan relativamente barata. E como é no poupar que está o ganho talvez seja este o filme, enfim, para nos sentarmos a fumar o cachimbo da paz com o realizador de «O Sexto Sentido», ele que nos últimos tempos tinha andado completamente perdido em andanças cinematográficas e televisivas («Wayward Pines» é outro flop) pouco ou nada recomendáveis, que o digam mesmo os seus fãs incondicionais. O problema, contudo, pode estar noutra máxima popular: o que é barato sai caro. Aguardemos...

Em «A Visita», Shyamalan regressa aos assombramentos e aos twists a 15’ do fim, que lhe deram fama e proveito, e só isso é bom sinal, sinal de que se lhe fez luz. O pior, mesmo, é o grau de insuportabilidade que, apesar de não deitar o resto a perder, atingem o irritante protagonista mais novo (mereceu amplamente a fralda na cara…) e aquela câmara não menos irritante aos tropeções, com as imagens em constante trepidação, num suposto registo pseudo-documental que se dispensa e que «Blair Witch Project» tornou memorável, em 1999, e «Rec» (2007) sublimou.

Pazes feitas com o realizador, uma vez ainda perdoados os momentos de auto-plágio (desde logo ao extraordinário «A Vila», de 2004), a publicidade gratuita ao skype (ou parecido) e aquela comicidade excedentária a que convém não voltar tão cedo. Não será a obra-prima por que se aguardava, mas este filme é um claro ponto de inflexão numa carreira que se temia irrecuperável, de regresso às origens, e tem um final apoteótico (a ira violenta dos netinhos, rompendo barreiras e fantasmas, é soberba!), podendo ser aquela janela de oportunidade por que se aguardava.

Saboreemos, por isso, este novo filme de Shyamalan mais aquela avozinha marada (uma excelente Deanna Dunagan), que sofre de um hilariante sundowning. Saboreemo-lo respeitando as 3 regras para consumo caseiro dos netinhos cuscas:

Divirtam-se. Comam o que quiserem. Não saiam do quarto depois das nove e meia da noite.


In O Diabo (22.9.2015)

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