terça-feira, outubro 13, 2015

Filmes em revista sumária #518


Do desfecho de vida real de James “Whitey” Bulger, o gangster de Boston, quase todos se lembrarão, porque é muito recente. Já relativamente ao seu curriculum pelos idos de 50 a 80 (!), o mesmo terá certamente passado despercebido à maioria dos espectadores deste lado de cá do Atlântico, não só pelas outras tantas coisas que tiveram para se entreter durante esses anos como pelo facto de Boston não ser Chicago ou Nova Iorque. «Jogo Sujo», de Scott Cooper, é por isso a oportunidade que faltava para nos actualizarmos. Contudo, sem Johnny Depp muito provavelmente este filme passar-nos-ia ao lado e a lacuna manter-se-ia.

«Jogo Sujo» é um filme de gangsters mas que nada tem a ver com os seus homólogos à moda antiga, dos anos 30-40, nem sequer comemora particularmente a «família», temática tão ao gosto de Coppola e Scorsese, que fizeram escol, nem revisita o gangsterismo do extremo-oriente. Em vez disso, Scott Cooper recorre à reconstituição factual da história, em registo jornalístico, numa realização seca q.b., sem grandes alaridos tecnicistas e apenas com algumas pinceladas sanguinolentas, noblesse oblige, recorrendo amiúde a locais onde a verdadeira acção decorreu.

Mas estamos perante um filme dominado do princípio ao fim pela personagem central e por um actor: Johnny Depp. Aliás, cena onde Jimmy Bulger não apareça, uma vez sabida a escandalosa aliança contranatura então feita entre o FBI e a máfia irlandesa de Boston, e pese embora alguns nomes consagrados em papéis literalmente secundários, isso é motivo suficiente para o filme entrar em ponto-morto, ficando sem garra, lento, repetitivo.

E se Bulger era carismático (e foi-o de certeza absoluta) e imprevisível (fruto das injecções de LSD a que se submeteu na prisão, voluntariamente, em finais dos anos 50?), Depp pegou na personagem com unhas e dentes e fez dela uma tão grande e hipnótica interpretação, muito para lá da simples (extraordinária) composição física ou dos cartoon à Tim Burton, que não nos admiraria nada que o próximo Óscar lhe seja entregue, de mão beijada, com louvor e distinção.


In O Diabo (13.10.2015)

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