Filmes em revista sumária #518
«Jogo Sujo» é um filme de gangsters mas que nada tem a ver com os seus homólogos à moda antiga, dos anos 30-40, nem sequer comemora particularmente a «família», temática tão ao gosto de Coppola e Scorsese, que fizeram escol, nem revisita o gangsterismo do extremo-oriente. Em vez disso, Scott Cooper recorre à reconstituição factual da história, em registo jornalístico, numa realização seca q.b., sem grandes alaridos tecnicistas e apenas com algumas pinceladas sanguinolentas, noblesse oblige, recorrendo amiúde a locais onde a verdadeira acção decorreu.
Mas estamos perante um filme dominado do princípio ao fim pela personagem central e por um actor: Johnny Depp. Aliás, cena onde Jimmy Bulger não apareça, uma vez sabida a escandalosa aliança contranatura então feita entre o FBI e a máfia irlandesa de Boston, e pese embora alguns nomes consagrados em papéis literalmente secundários, isso é motivo suficiente para o filme entrar em ponto-morto, ficando sem garra, lento, repetitivo.
E se Bulger era carismático (e foi-o de certeza absoluta) e imprevisível (fruto das injecções de LSD a que se submeteu na prisão, voluntariamente, em finais dos anos 50?), Depp pegou na personagem com unhas e dentes e fez dela uma tão grande e hipnótica interpretação, muito para lá da simples (extraordinária) composição física ou dos cartoon à Tim Burton, que não nos admiraria nada que o próximo Óscar lhe seja entregue, de mão beijada, com louvor e distinção.
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