terça-feira, dezembro 15, 2015

Filmes em revista sumária #525


O problema de “007-Spectre” reside no facto, por sinal sua própria atenuante, de ter sido humanamente impossível a Sam Mendes, por sinal um belíssimo realizador, suplantar-se a si próprio e a Skyfall (2012), o anterior filme que realizou para a saga daquele que é o mais famoso agente secreto de Sua Majestade (e que Sean Connery imortalizou), e que na altura significou para os amantes do tema o reinventar da narrativa e o renascer das cinzas, e para os herdeiros de Albert Broccoli, o celebérrimo produtor, o reencher dos seus cofres, transformando o espião num super-herói à prova de bala, e o filme num dos melhores filmes de acção dos últimos anos. A previsão tornou-se um facto, ainda que revogável, espera-se.

Por isso, “007-Spectre”, que até não é mau, denota um certo cansaço, o mesmo, por sinal, que foi comum a tantos outros filmes que recorreram a cenas decalcadas de “filmes-irmãos” para compensarem falhas de interesse e/ou de talento, e também ele não resistiu à tentação, decalcando situações e perseguições, lutas e diálogos, veja-se a sequência no comboio, de «From Russia With Love» (1963), aqueloutra da “central de espionagem”, de «Moonraker» (1979), etc.

Um cansaço quiçá contagiante e a vários níveis, desde logo audível na paupérrima canção do genérico inicial, estoutro incrivelmente piroso e atípico das originalíssimas introduções, apanágio dos filmes de Bond. Contagiante também à prestação de Daniel Craig, action man, perdão, Bond do século XXI, e, espanto imenso, à do fabuloso actor que é Christoph Waltz, pois há mais encantamento numa única cena com o terrível Blofeld de Donald Pleasance, em «You Only Live Twice» (1967), do que em todas em que o austríaco ora contracena (porque será?). Nota negativa também para o miscast de Léa Seydoux: o olhar lânguido de uma boa actriz não significa forçosamente uma boa Bond Girl, que tem pelo menos de saber andar de saltos altos!

Facto consumado: “007-Spectre” cumpre os serviços mínimos, não deslustra mas sabe a pouco. Serão motivos suficientes para se dizer que Bond ou que a Spectre deram os seus trâmites por concluídos? Claro que não!


In O Diabo (15.12.2015)

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