«Lore», de Cate Shortland, é, de longe, o melhor filme estreado em Lisboa nos últimos meses. Filme soberbo, visualmente insuperável e verdadeiramente emocionante, assombroso (para usar um termo caro a João Lopes), que relata não tanto os vencidos da guerra e o seu olhar sobre os vencedores, mas todo um particular que é a inocência perdida: a meninice, a adolescência, a pureza, tudo isso ceifado de um momento para o outro (revisitação de Hansel & Gretel?), não tanto por causa da guerra mas, quiçá, por causa dos … pais. Tudo isso está resumido num momento do filme, em que Lore parte a colecção de porcelanas de bâmbis. Cenas notáveis são a dos últimos passos de vati e mutti, uma família em desconstrução (peça sob o cair do pano…), a fuga rumo ao reduto de omi, por entre o verde da Floresta Negra e as ruínas de um povo; o assassinato do pescador, o jogo da sedução à tona da água do lago, a imensidão da maré vazia a vencer, já quase na casa da Avó, e o clímax do reencontro, da salvação mas, também, da transformação irreversível. A jovem Saskia Rosendahl está um espanto! Um grande momento do cinema, com uma banda sonora também prodigiosa de Max Richter.