quarta-feira, dezembro 30, 2015

Os meus filmes de 2015:


1. Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller)
2. Birdman (Alejandro González Iñárritu)
3. Juventude (Paolo Sorrentino)
4. Sicário (Denis Villeneuve)
5. Estações da Cruz (Dietrich Brüggemann)
6. Força Maior (Ruben Östlund)
7. Vai Seguir-te (David Robert Mitchell)
8. Um Ano Muito Violento (J.C. Chandor)
9. As Asas do Vento (Hayao Miyazaki)
10. Sono de Inverno (Nuri Bilge Ceylan)

terça-feira, dezembro 29, 2015

Filmes em revista sumária #527


Bem pode a Disney gastar milhões e milhões em marketing e bonecada vária para consumo do Pai Natal, e acenar com os billions que o filme custou e já rendeu, entretanto, ou com os nomes de George Lucas e da sua (dela já) Industrial, Light & Magic como cartões-de-visita de «Star Wars: O Despertar da Força», que este 7º capítulo da space opera mais famosa de sempre (quiçá a par de «Flash Gordon», dos anos 30) cujo início remonta a 1977, não chega nem aos calcanhares de «O Império Contra-Ataca» (1980), o 2º capítulo da trilogia inicial (5º capítulo da saga), nem de «A Vingança dos Sith» (2005), o 3º filme da “prequela”, quanto mais ser o filme soberbo e definitivo que há quem já diga que é (uma coisa é ser-se fã incondicional outra é negar-se a evidência).

O problema começa logo no argumento, que custa a engolir, e nas suas piruetas explicativas das personagens, novas e velhas, com coisas a roçarem o caricato, como a história que inventaram para o herdeiro do lendário Darth Vader, a quem se apressaram, aliás, erradamente, a tirar o capacete, e as aparições do Supremo Líder em holograma (estará algures na Coreia do Norte?), mais a confrangedora utilização dos efeitos-especiais, em nada condicentes com os postos ao serviço dos 6 capítulos anteriores, o facto da personagem de Finn passar a vida a arfar, esteja a correr ou parado, etc. por fim, e muito pior, a sensação por demais repetida de que tudo aquilo já foi visto em algum dos capítulos passados - a páginas tantas vemos chegar Solo, Leia (ai coitada…), Skywalker, Chewbacca, C-3PO, R2-D2, as naves do costume, e só falta mesmo Alec Guinness - com jeito ainda aparece em holograma num dos próximos episódios das sequelas da Disney.

Dito isto, o filme entretém bastante, não fora sobre o que é e a herança que transporta consigo. O robot bolinha BB-8 rola bastante bem e Daisy Ridley é a Natalie Portman que não pôde “aterrar” no filme. Harrison Ford está em forma, desde que fora do grande-plano, e J.J. Abrams dá-se melhor na TV. A Força tem destas coisas e a aventura continuará. Fica a pergunta: com o planeta dos maus de 1ª em erupção como é que juntarão as peças para uma … 2ª Ordem?


In O Diabo (29.12.2015)

terça-feira, dezembro 22, 2015

Filmes em revista sumária #526


«Mocidade, mocidade, porque fugiste de mim, hoje vivo de saudade, como é triste perdermos a mocidade, sentimos que é o princípio do fim», cantara António Calvário pelos idos de 70, já antes Tony de Matos lamentara: «Oh tempo volta para trás, dá-me tudo o que eu perdi, tem pena e dá-me a vida, a vida que eu já vivi».

Palavras sábias que em «Juventude» - o novo filme do napolitano (por isso charge-homenagem a Maradona, “rei de Nápoles”), do profundamente romântico e cínico (quiçá por isso politicamente incorrecto) Paolo Sorrentino, no pós-opera-prima de «A Grande Beleza» - ganham forma na velhice inquieta de corpo e mente de dois amigos octogenários, ambos maestros da régie, que se encontram a retemperar forças (e inspiração) numas termas alpinas de sonho que lembram A Montanha Mágica, de Mann, pelas personagens, aqui e ali fellinianas, pela magia, onirismo, decadência, etc., espartilhadas pela morte, por via da tuberculose, no livro, pelo excesso de melancolia, no filme.

Sorrentino está em forma (ufa) neste seu novo e belíssimo filme, maravilhoso por vezes (ai aquelas pinceladas à la Greenaway, com os clientes anónimos do spa a desfilarem silenciosos, estáticos, como se fossem figuras saídas de um De Chirico! Eles e elas, novos, velhos, gordos, magros, bonitos, feios, na sauna, na piscina, na sala de jantar, na esplanada, no parque, nos quartos), e que fica na retina também pela fotografia esplendorosa de Luca Bigazzi e pela banda sonora do sempre inspirado David Lang, ambos habitués de Sorrentino.

Michael Caine e Harvey Keitel encaixam que nem uma luva nos dois amigos veteranos com histórias para e por contar, numa dupla que aparentemente podia desequilibrar em favor do inglês. Rachel Weisz e Paul Dano protagonizam cenas de antologia com Caine, ela na terapia de lama, ele na da citação a Novalis (somos sozinhos com tudo o que amamos). Uma desbocada Jane Fonda mete no bolso os poucos minutos onde entra e segue para a Academia…

O filme mexe connosco, talvez tenha nus a mais e seguramente substrato a menos. Para repetir o precedente faltam-lhe uma história mais profunda e, porque não, o ser falado em italiano.


In O Diabo (22.12.2015)

segunda-feira, dezembro 21, 2015

Inverno


Por Acimboldo, em 1573

terça-feira, dezembro 15, 2015

Filmes em revista sumária #525


O problema de “007-Spectre” reside no facto, por sinal sua própria atenuante, de ter sido humanamente impossível a Sam Mendes, por sinal um belíssimo realizador, suplantar-se a si próprio e a Skyfall (2012), o anterior filme que realizou para a saga daquele que é o mais famoso agente secreto de Sua Majestade (e que Sean Connery imortalizou), e que na altura significou para os amantes do tema o reinventar da narrativa e o renascer das cinzas, e para os herdeiros de Albert Broccoli, o celebérrimo produtor, o reencher dos seus cofres, transformando o espião num super-herói à prova de bala, e o filme num dos melhores filmes de acção dos últimos anos. A previsão tornou-se um facto, ainda que revogável, espera-se.

Por isso, “007-Spectre”, que até não é mau, denota um certo cansaço, o mesmo, por sinal, que foi comum a tantos outros filmes que recorreram a cenas decalcadas de “filmes-irmãos” para compensarem falhas de interesse e/ou de talento, e também ele não resistiu à tentação, decalcando situações e perseguições, lutas e diálogos, veja-se a sequência no comboio, de «From Russia With Love» (1963), aqueloutra da “central de espionagem”, de «Moonraker» (1979), etc.

Um cansaço quiçá contagiante e a vários níveis, desde logo audível na paupérrima canção do genérico inicial, estoutro incrivelmente piroso e atípico das originalíssimas introduções, apanágio dos filmes de Bond. Contagiante também à prestação de Daniel Craig, action man, perdão, Bond do século XXI, e, espanto imenso, à do fabuloso actor que é Christoph Waltz, pois há mais encantamento numa única cena com o terrível Blofeld de Donald Pleasance, em «You Only Live Twice» (1967), do que em todas em que o austríaco ora contracena (porque será?). Nota negativa também para o miscast de Léa Seydoux: o olhar lânguido de uma boa actriz não significa forçosamente uma boa Bond Girl, que tem pelo menos de saber andar de saltos altos!

Facto consumado: “007-Spectre” cumpre os serviços mínimos, não deslustra mas sabe a pouco. Serão motivos suficientes para se dizer que Bond ou que a Spectre deram os seus trâmites por concluídos? Claro que não!


In O Diabo (15.12.2015)

sábado, dezembro 12, 2015

Leões da Estrela


Esta é uma crónica feita ao contrário, em negação absoluta sobre o objecto em apreço, uma escrita ignorando olimpicamente o que é, ou deixa de ser, o novel «O Leão da Estrela», fita estreada há pouco entre nós e à qual se deseja vida breve, morte súbita, portanto, embora haja quem (provavelmente o autor) contraponha aos epítetos já lançados por alguma da mais ilustre crítica lusitana (“coisa”, “para quem é, bacalhau basta”, “produto televisivo medíocre”, “chorrilho de disparates” entre outras designações “eventualmente chocantes”) e de quem não se duvida nem por um instante, de que a realidade dos números (futuros) em termos de espectadores a desmentirá, ou seja, as 600 mil almas penadas que, espera, irão assisti-lo (graças à publicidade e que valerão economias de escala em termos de subsídios…), tal e qual aquando da primeira das comédias clássicas, «O Pátio das Cantigas» (a outra é «A Canção de Lisboa») a serem blasfemadas, sem que nada tenham feito para o merecer.

Assim, servem as presentes linhas de memento a quem perdeu o hábito de rever os filmes de antanho, já não digo dos nossos clássicos do mudo de Ângela Pinto ou da Rey-Colaço, mas dos sonoros que o serviço público de TV calou e tem vergonha em exibir. Falamos daqueles com elencos foras-de-série (actores, realizadores, compositores, cenógrafos, etc., excepção feita à sonoplastia, o nosso eterno calcanhar de Aquiles). No caso presente, e à cabeça, do extraordinário António Silva e de nomes como Milú, Erico Braga, Laura Alves, Maria Eugénia, Curado Ribeiro, Artur Agostinho, Maria Olguim, Óscar Acúrsio e, naturalmente, do inolvidável Arthur Duarte.

Mas escrevemo-las também, e sobretudo, em defesa da honra dos “Cinco Violinos”, dos geniais Peyroteo, Albano, Jesus Correia, Vasques e Travassos, heróis de uma bola sem UEFA, botas de ouro, transmissões por cabo e corrupções, em que as bolas eram de “caoutchouc”, as chuteiras pesavam toneladas, as traves eram de madeira, podia-se levar guarda-chuvas para os estádios e os árbitros não precisavam de defender a honra da mãe.

«Se é leão, é um homem de bem».


In O Diabo (8.12.2015)

terça-feira, dezembro 01, 2015

Filmes em revista sumária #524


Enquanto uns rodam filmes decalcando sucessos alheios, na esperança de com isso tirarem boa crítica e proveito, e nunca chegam a alcançá-lo, outros há que não só conseguem revisitar géneros aparentemente estafados, como arranjam arte e engenho suficientes para nele registarem a sua marca para a posteridade.

Vem isto a propósito de Steven Spielberg e de «A Ponte dos Espiões», um filme sobre trocas de espiões, reais e documentada/os, com vista para o Muro, o tal, e com um herói, americano, pois então, igual ao comum dos mortais e que, de um momento para o outro, salta da sua trivialidade quotidiana para a ribalta das manchetes e da Guerra Fria, mergulhando na História, qual personagem de Capra, bem entendido, mas que no presente – o caso do avião U2 - foi realmente a mais pura das verdades, e bem documentada, até.

Na verdade, este toque de Midas não é exclusivo de Spielberg, mas é talento de mui poucos, no entanto, com o autor de «O Resgate do Soldado Ryan» parece ser sempre novidade e que, no caso em apreço, ninguém nunca viu filmes de espiões, passados na Berlim do pós-guerra, etc., etc., mais Le Carré menos Le Carré, bem entendido.

«A Ponte dos Espiões» tem a virtude, máxima, de saber juntar numa mesma empreitada a extraordinária capacidade de Spielberg em gerir, em perfeito equilíbrio, entretenimento com drama, com tudo o que isso implica de saber e fazer em termos de gestão da intriga e das expectativas, recriação histórica, acertada utilização da fotografia e do som, direcção de actores (embora desta vez alguns secundários estejam à altura dos demais) e, obviamente, daquilo que é o seu grande trunfo: um argumento imaculado, a que não será estranha a presença dos irmãos Coen.

E se Tom Hanks volta a ser o Jimmy Stewart (ou será Gary Cooper?) de serviço, a grande interpretação, previsivelmente candidata a Óscar, essa está a cargo do britânico Mark Rylance no papel de “Coronel” Abel.

Stoikiy muzhik, Stoikiy muzhik.


In O Diabo (1.12.2015)