segunda-feira, novembro 21, 2016

Filmes em revista sumária #551

Pese embora a inquestionável simpatia de Ewan McGregor e a portentosa interpretação de Jennifer Connelly, a verdade é que a estreia do escocês na dupla qualidade de realizador-actor (ou será o inverso?) de «Uma História Americana» (e qual será o dicionário "à maneira" em que pastoral é sinónimo de história…) deixa muito a desejar, para não dizer que é um rotundo flop. O dramalhão (será o mesmo da obra de Philip Roth?) ter-se-ia resolvido com uns valentes tabefes na irritantíssima Merry (que Dakota Fanning transforma em zombie) e tudo podia ter sido diferente, até a sua gaguez, dela e do filme. Assim não foi e o drama passou a hilariantemente estúpido e o filme a lento, monocórdico, parecendo durar uma eternidade. Aplausos para a sequência final em que o pobre do Ewan faz plantão não arredando pé defronte ao barraco da filha, e as suas rugas e fatioca entram num fast forward de turbilhão só terminando com o pai no caixão. As adaptações ao cinema de prémios Pulitzer, mais a mais por estreantes, podem dar nisto… esta deu.

quinta-feira, novembro 17, 2016

Filmes em revista sumária #550


«Sozinhos em Berlim» começa bastante bem, com a sequência da morte do filho do casal Quangel, na Frente, a introdução das personagens e o despoletar da revolta silenciosa dos pais, que por via da escrita e distribuição direcionada de postais-denúncia vão tentando minar o sistema/regime apelando à desobediência de cada qual, num raio de acção cada vez maior pela cidade, deixando-os aqui e acolá de preferência perto de funcionários da administração pública, serviços e afins. Um dia a coisa dá para o torto e o final da história depressa se adivinha. O filme depressa vira pastelão e Vicent Perez, o seu “realizador”, parece confundir reconstituição histórica com pintalguice pirosa, deixando, inclusivamente, cenas completamente desconexas, umas, pessimamente encenadas, outras. Os poucos louros de «Sozinhos em Berlim» residem em Emma Thompson (sempre fantástica) e em Brendan Gleeson, primando este num espantoso underacting, pouco consentâneo com a sua imagem habitual de “elefante em loja de porcelana”. Melhor cena? A de Gleeson esculpindo na madeira o rosto do filho desaparecido em combate. Resumindo: uma bela história que merecia outro filme.

terça-feira, novembro 15, 2016

Filmes em revista sumária #549


«Café Society» é um marco na carreira de Woody Allen porque é a 1ª vez que o autor de «Manhattan» filma em digital e, outra estreia, que tem como director de fotografia o portentoso Storaro. E de marcos estamos falados. Mas como estamos a falar de Woody e o que nele é mediano noutros seria apelidado de marco, que dizer dos diálogos pontiagudos? Do seu humor mais-que-negro? Da crítica corrosiva a vários desde logo aos próprios compatriotas? Do ritmo a que tudo roda e gira? Da meticulosa reconstituição de época (embora desta vez apenas tenha aprimorado naqueles fantásticos décors de interiores no escritório do agente e nos exteriores da moradia Art Déco da mítica Dolores Del Rio)? Da banda sonora imaculada? Da genialidade de toda a sua simplicidade? Kristen Stewart perde-se de amores entre o irritantérrimo Steve Carell e o insuportável Jesse Einsenberg e como o que conta são os dólares, grande novidade, o final é o que é. Até para o ano, Woody, e se possível com um melhor do que «Blue Jasmine» ou «Match Point». E café society, era mesmo o quê? Não interessa, tens razão.

segunda-feira, novembro 14, 2016

Filmes em revista sumária #548


Em «Arrival» (traduzido para «Primeiro Encontro»!), somos invadidos por 24 aliens gigantescos e tentaculares (os ditos cujos mais os respectivos urros são decalcomanias boazinhas do fabulosamente terrífico «The Mist», de Darabont e Stephen King) em 12 naves em forma de bola de rugby (seria um pouco demais se fossem monólitos negros…) que, pasme-se, só nos querem dar a descodificar a linguagem universal, um esperanto encriptado numa espécie de kanjis em borrões de tinta-da-china, e que apenas um linguista superdotado e vidente poderá decifrar. Fazem-no, pasme-se, para que nós os recompensemos daqui por 3 mil anos, não se sabe do quê nem como, o que é só por si coisa “pouca”. A coisa é profunda, claro, mas fica longe do padrão universal dos filmes de ficção científica que chegam até nós anualmente, o que só abona em favor de Denis Villeneuve, o realizador, que a páginas tantas se perde numa dimensão de dispersão mallickiana, que se lhe desconhecia e dispensa. Amy Adams, como seria de esperar, vale a outra metade do filme mas tanto Jeremy Renner como Forest Whitaker andam perdidos e totalmente desaproveitados, ou seja, que fazem ali? Que venha o próximo Villeneuve mas com tirinhos, de preferência.

sábado, novembro 12, 2016

Obituário: Robert Vaughn (1932-2016)


All I did was basically play myself in the role of Napoleon Solo. Mas foi mais do que Mr. Solo, foi herói e vilão (e como era bom a fazer deles, fosse político corrupto ou assassino de élite, sim porque nunca perdia a elegância) em tantos, por vezes demasiados, papéis e cameos para filmes e episódios de televisão que é difícil perdê-lo da retina. Também nunca esquecerei Lee, o pistoleiro em crise de confiança, nos «Sete Magníficos». David McCallum costumava atirar-lhe à cara: It's a handicap isn't it? Being so obviously American?