Sou fã de Pirandello, seja lá o que isso for. Leio-o sempre que posso, e vejo e ouço o seu teatro sempre que a bolsa e os intérpretes (sobretudo se apenas 'seis') o permitem. A última vez no D. Maria II tinha sido em 1998, por causa de uma encenação de Luca Ronconi. Assombrosa e quase fantasmagórica. Memorável.
Por isso, aqui fica o meu obrigado aos Artistas Unidos, pela bela, divertida e interactiva encenação da peça que dá título a este pobre post. Encenação de Silva Melo, que prova por A+B (como se isso estivesse em causa) que está erradíssimo quem diz só saber ele encenar peças com poucos actores em cena.
«Killshot» é um filme que surpreende de 15’ em 15’, na tentativa, parcialmente falhada, de querer ir mais além do simples filme policial a viver às custas do regresso ao estrelato de Rourke (desta vez maquilhado), ou da beleza cansada de Diane Lane [até porque é a Joseph Gordon-Levitt (lembram-se dele no «Terceiro Calhau …»?) que cabe a melhor performance] e a alguma brutalidade estonteante, «à la» Walter Hill.
Na verdade, John Madden é capaz de muito mais do que este «Killshot», que tem uma excelente fotografia e umas quantas sequências magníficas (ex. o plano final, as estapafúrdias fúrias de Gordon-Levitt, a perseguição ao índio no canavial); a acompanhar um interessante enredo (digno daqueles livros de antigamente), mas que cai de tempos a tempos numa fastidiosa previsibilidade, quiçá vítima de algumas falhas no enredo da coisa.
I want everyone under my command to be drunker than a fiddler's bitch by nightfall
Depois, hoje, logo pela manhã, Heston, perdão, o Major Dundee comandava as suas tropas numa correria anti-apache, mesclada aqui e ali por incursões e confrontos no México.
Primeiro foi no Sábado à noite, o memorável policial à boa maneira dos anos 70, «The Getaway», um policial de truz, com uma saudosa dupla, que fez faísca no écran e na vida real.
Era bom era que nesta gelataria de antanho evitassem colocar na mesma couvette sabores diferentes (!), honrando assim o nome de Luca Giovanni, e pugnando pela mais elementar regra de uma oferta de qualidade.
E na mais antiga pastelaria do Chiado ainda em actividade, a Benard', os seus funcionários não andassem a fumar dentro das instalações. É ilegal, anti-higiénico, feio, e faz mal.
Paul Schrader está de volta e com ele o seu comprovado bom gosto, visualmente falando. Nesse aspecto, «Adam Resurrected» não foge à regra, sendo que desta vez parece ser a sublimação do décor e da artificialidade, o que se revela um contra-senso na medida em que este filme é talvez o que de todos os da autoria de Schrader tenha uma maior base e conforto literários. O filme é de facto muito bonito, altamente alegórico, e tem uma interpretação espantosa de Jeff Goldblum, num palhaço judeu que para se salvar a si e aos seus se deixa transformar no pet do comandante de um campo de concentração, perseguindo-se a si próprio desde então, num misto de consciência pesada e complexo pavloviano, sofrendo na carne os seus pecados, de que só se redime quando a providência lhe propicia um ‘filho’.
Os períodos a preto e branco, com ligeiros movimentos de câmara e um também espantoso Dafoe, são de longe muitíssimos melhores do que a rotina psiquiátrica, e cheia de clichés, da clínica/centro de investigação/campo de concentração do deserto israelita.
Ontem, à exacta hora em que uma esganiçada SIC promovia um pseudo-derby entre Sporting e Benfica (a ordem para sim será sempre esta, peço perdão), que mais parecia um daqueles clássicos entre solteiros e casados; a RTP Memória prestava serviço público e exibia «Freud», de 1962, feito por Huston, um daqueles que não sabia fazer filmes mal feitos.
É de facto notável como Eastwood se conseguiu impor a todos quantos o vilipendiavam, nem há 20 anos, protagonizando e filmando agora da mesmíssima maneira que o fazia nos idos de 70. Um grande senhor que se recusa a ceder. Hoje é um tremendo e justíssimo ícone. Que a gerência deste blogue agradece sobremaneira.
Wally, perdão, o Walt de «Grand Torino» é exactamente o mesmo protagonista, de poucas falas, fácies esculpido a talho de foice e presença intimidante que caracterizaram tantos dos seus filmes enquanto cowboy justiceiro sem nome, por exemplo, ajudando populações e mulheres violadas por vilões cobardes, muito na linha de «Shane», claro, que serviu de escola a todos que lhe sucederam.
O fabuloso Ford que dá nome a este mais recente e também fabuloso filme de Eastwood, funciona aqui algures entre um macguffin sem nexo que não o aparente, e metáfora para a razão de ser do filme: a redenção de uma personagem consigo mesmo.
O filme é belíssimo, rodado naquele modo calmo de Eastwood, lembrando muito o também belíssimo e sentimentalão «Honkytonk Man» (de 1982 e a revisitar de imediato!) e tem momentos de auto-paródia inolvidáveis por todos os outros de uma nostalgia masoquista que só muito poucos conseguem filmar. Contudo, aquele final de assombro sofrendo na pele o que costumava fazer sofrer nos filmes de antanho, só pode surpreender o espectador mais incauto, pois era o único desenlace possível. Ainda por cima temos direito a Eastwood cantando no final, quando o Ford arranca rumo a um mundo novo. Para aplaudir de pé!
Dadas as hesitações frente a 39 Degraus, no Criterion, e dadas as lotações esgotadas de Oliver, não tanto pelo imponente Drury Lane, mas por culpa de Mr. Bean travestido de Faggin, fomos parar a uma peçaà la Conan Doyle em cena há 19 anos (em Londres é quase sempre assim), no velhinho, intimista e decadentemente belo, Fortune.
Nunca o perto foi tão longe. O comboio passava entre St.Albans e Harpenden e Childwickbury Manor, a mansão do meu ídolo cinematográfico nº 1 ali a poucas centenas de metros, chamando por mim. Não dava tempo para parar e ficou para a próxima. Ele tem todo o tempo do mundo, bem sei. Mas também sei que pequei, sim.
Ignorante como sou, fiquei boquiaberto ao ver que afinal há uma Ofélia pictórica superior à de Jean Simmons no imortal filme de Olivier. O embate com o quadro de Millais foi na Tate, a custo zero, ainda por cima.
Para as centenas e centenas de livros antes comprimidas na homóloga da Olaio (demolida por mim com imensas ganas, diga-se). E à falta de verba para uma à mansão inglesa, shame on me.