Mesmo estranhando que seja pela mão de franceses, e não de americanos, que os festivais e demais eventos por aí, estejam a evocar o cinema mudo … norte-americano e o seu inesgotável
glamour (e nunca a palavra seria tão bem aplicada à 7ª Arte como então), mas também o seu terrível declínio por força do advento do sonoro – até porque também o cinema francês produziu mudos de eleição, mais respectivas estrelas (aliás, a personagem central tem tanto de Fairbanks, pai, como de Max Linder, o genial cómico francês do Mudo) -, e mesmo reparando que o preto e branco de «
O Artista» tem nada que ver com o P/B dos anos 10-20, ou que à parte uma certa misturada de
clichés sobre o Mudo, o argumento do filme é pouco mais que oco; a verdade, verdadinha, é que é perfeitamente impossível deixar de gostar deste filme de Michel Hazanavicius (e como este nome parece teré saído do baú de pseudónimos, anagramas e outras invenções daqueles tempos).
Jean Dujardin e Bérénice Bejo são réplicas quase perfeitas de um tempo que não volta, e o espertíssimo
Uggy dá-lhes aquele toque de comédia com que plateias deliravam, se bem que caiba à dupla do sonoro, Dick Powell & Myrna Loy, o melhor que jamais houve nesse registo.
Há
gags impagáveis, um
frisson irrepreensível, e quase que apetece retalhar o filme num daqueles
serials protagonizados por Pearl White, e que a minha Avó também via por detrás da tela …As melhores sequências? A correria de automóvel da rapariga em salvamento do seu herói, e o sonho do protagonista; aquele terrível pesadelo em que os figurantes … falam.
Valeu a ele e a nós que o sonoro (os
talkies), que acabou por matar na produção o Mudo e muitos dos seus intérpretes, por esta ou aquela razão, hoje quase que ridícula (é ver quantos actores do sonoro têm vozes ridículas e, pior, nem sabem expressar-se minimamente…), não matou a maior parte dos grandes registos desse tempo, apesar de muitos continuarem desaparecidos, talvez para sempre. Podemos, portanto, continuar a admirar as imortais obras de Griffith, Lang, Murnau, L’Herbier, Lubitsch, Vidor, Keaton, etc., etc., e um firmamento interminável de estrelas e mais estrelas da
Silent Era- a minha galáxia preferida, com Chaney à cabeça, pois então: o verdadeiro Cinema Mudo!