O melhor elogio que se pode dar a «
Zodiac» é que ele é um digno elixir dos policiais dos anos 60-70, de que Aldrich e Siegel (as parecenças com «Madigan» são evidentes) foram/são o expoente máximo, e de que São Francisco foi fétiche, de «Bullit» a «
São Francisco Cidade Nua». De facto, David Fincher volta a um estado de graça que já lhe fazia falta, com um filme em que a reconstituição histórica (brilhante) e a cronologia assassina pormenorizada não são o que verdadeiramente interessa (daí algumas falhas na caracterização ao longo de 20 anos, sobretudo na personagem de Jake Gyllenhaal (deliberada?), e na necessidade de legendar as sucessivas etapas da narrativa - a solução da construção acelerada da
Transamerica Pyramid é a prova que Fincher não estava preocupado com isso mesmo), mas antes sim com a escalpelização da mente de um assassino em série (piscadela de olho muito mais a «Silêncio dos Inocentes», via Brian Cox, do que propriamente a «Se7en») e, sobretudo, com o detalhe, burocrático e obsessivo do método, do
puzzle da investigação jornalístico-policial, digna de «Os Homens do Presidente» e ... em contraponto à eficácia justiceira de
Dirty Harry. Aliás, «Zodiac» é um filme feito para parar e pensar.
No campo dos actores, realce-se sobretudo e sem dúvida nenhuma Mark Ruffalo, um actor extraordinário mas, quiçá, já demasiadamente colado a personagens de detectives. Jake Gyllenhaal está igual a si próprio, o que significa: excelente. Robert Downey Jr. merecia mais tempo de antena. Chlöe Sevigny toma conta do filme em todas as cenas em que participa. As melhores cenas do filme? O táxi rolando e virando à direita, e a câmara acompanhando-o, em «plongé». Os olhos nos olhos de uma cena quase no final, em que o cartoonista-detective confronta o assassino com um simples olhar, na loja de vassouras e afins.