Em «
30 Dias de Escuridão» não há apelo nem agravo, para nada nem ninguém. O destino está traçado no exacto momento em que aquele passageiro do navio encalhado no gelo, avança decididamente até ao penhasco, sobre a «população-alvo» lá em baixo, ao longe, desprotegida e prestes a ficar de noite, 24h sobre 24h (um dos melhores planos de todo o filme, afinal). A partir daí tudo está à mercê dos vampiros liderados por um transfigurado Danny Huston; e a quem quiser escapar do morticínio geral só resta mesmo é esperar, o melhor que se pode, pelo renascer do sol. Se a isto se juntar o grafismo próprio das bandas desenhadas contemporâneas, então, não nos podemos admirar que este filme seja excessivamente «mecânico» (como afirmam algunas críticos mais reticentes), demasiado gótico (por sinal, a fotografia do filme é realmente notável de monocromática), ou sem alma.
De facto, aqueles vampiros, não sendo da colheita de Romero ou de Carpenter (e como este filme toca a «The Thing», na construção da ameaça, do ambiente, da metodologia da razia, do duelo final à «western», ...), são fruto de outra geração, não só de realizadores novos, saídos de Sundance & Cia., mas talvez mesmo daquela que Danny Huston refere como tendo estado séculos sem saber da existência das noites longas do Alasca, e séculos a fazer crer aos humanos que eram os vampiros apenas sonhos e pesadelos. Um belíssimo filme, este; e David Slade, claro, depois de «Hardy Candy», soube mudar de agulha e voltar a tocar bom cinema, juntando o branco e o negro, o dia e a noite, o lento e o rápido (muito bem inseridos os planos em «slow motion» e em «fast forward»). Um pequeno senão: uma quebra (evitável) no ritmo a 3/4 do filme, talvez por alguma falta de traquejo na direcção de actores...