Em «
O Laço Branco» estamos perante o melhor cinema que Michael Haneke jamais rodou, mas também perante o regresso ao que de melhor o cinema europeu jamais viu, sob a forma de revisitação aos grandes painéis familiares a que nos habituou Carl Dreyer, por exemplo, prenhe de austeridade, tabús e preversidades, formatados sob a imensidão religiosa, mas também metafísica. Mas também há muito do cinema de Ophuls, da alegria estonteante, apesar de sem música.
Que dizer das imagens que se vão sucedendo, da beleza das imagens? E daquela câmara digital, hino ao P/B e posta à disposição de enquadramentos verdadeiramente assombrosos (a ceifa, a cruz luminosa na janela dos filhos do sacerdote, a neve, os jovens namorados aos comandos da carroça, os pés da defunta emoldurados de negro, a destruição dos repolhos, os fiéis na igreja, a festa dos trabalhadores, o dueto da baronesa e do perceptor)?
E aquelas personagens, santo Deus, cofres de segredos fechados a sete-chaves? Mas também brancos de inocência (a melhor sequência é a do petiz mostrando o pequeno pardal ao pai)! E os rostos e os olhos, espelhos da alma?
Óscar, já, não de língua não inglesa mas do cinema universal!