A páginas tantas, dei por mim a pensar que estava a ver um filme de Frankenheimer ou Michael Mann, mas não estava, pois era «
The Town» que estava a passar no écran, o novo filme dirigido por Ben Affleck, apostado na hora certa em acumular funções para além de actor (na maior parte das vezes em filmes menores e sem arte ou engenho suficientes para participar noutro tipo de filmes) naquele que pode muito bem vir a ser um passo decisivo para a sua afirmação enquanto realizador de referência. É uma questão de esperar e ver.
Sobre o filme propriamente dito, é um clássico filme de polícias e ladrões, da subcategoria “assalto a bancos”, tão em voga nos saudosos anos 70 (finais de 60). Pelo meio há referências a outro tipo de assaltos clássicos da 7ª Arte, a começar pelo kubrickiano «The Killing», por ex. Affleck não se faz tímido e resolve dar-nos algumas cenas de arromba, ao melhor estilo de «Heat», com trocas de tiros a metralhadora e câmara (e não “câmera”, como erroneamente insiste em escrever a gerência do UCI Corte Inglês) ao ombro, numa profusão de imagens e sons digna de registo nos melhores filmes de acção do género.
Affleck revela-se ainda um excelente director de tensões e actores, basta ver três das cenas mais intimistas do filme, começando pelo encontro a três na esplanada, em que a tatuagem no pescoço está prestes a ser descoberta por Rebecca Hall, ou aquelas entre Affleck e o pai, na cadeia, e entre a ex-namorada de Affleck e o agente F.B.I. (Jon Hamm é até quem está melhor neste filme), ao balcão do bar, talvez o melhor diálogo de todo o filme. A recuperação do “homem que mexe os cordelinhos desde uma loja florista” está muito bem apanhada, a fazer lembrar muitos filmes dos estúdios ingleses de antanho.