terça-feira, julho 31, 2012
Filmes em revista sumária #351
Coragem e desprendimento: teve-os Eva Ionesco para transpor para o grande écran a sua história de vida, que, verdade seja dita, foi do conhecimento público há 40 anos, mas nunca tinha sido exibida e descrita com este pormenor na primeira pessoa do singular. «My Little Princess» é, assim, a autobiografia daquela que foi a ninfetta da própria mãe, Irina, ao servir-lhe, de forma escabrosa e doentia, de modelo fotográfico e fonte de receita durante anos a fio. A história tem-se como verídica tal como as réplicas dos décors. Huppert está unique, como sempre, e Anamaria Vartolomei cumpre bem, embora nunca atingindo a expressão dúbia e provocante da original, como se comprava consultando imagens desta de arquivos online. Vale pela curiosidade e pelo "voyeurismo" evidente.
quinta-feira, julho 26, 2012
segunda-feira, julho 23, 2012
Obituário: Simon Ward (1941-2012)
Em Sta. Apolónia revivi Carpenter e «The Fog»
sexta-feira, julho 20, 2012
quinta-feira, julho 19, 2012
Filmes em revista sumária #350
Nunca fui escuta, porque não gostava (gosto) de dormir em tendas e porque tinha (tenho) medo dos terríveis seres das florestas. Mas depois de ver «Moonrise Kingdom» o último e magnífico e arejado filme de Wes Anderson, deu-me vontade de voltar atrás e dizer presente às requisições que todos os anos eram feitas nas escolas por onde andei invocando o nome de Baden-Powell (não o compositor brasileiro … mas o militar inglês). Graças ao bom gosto, ao sentido estético e ao humor inigualável de Anderson, pude regressar de facto aos idos de 60-70, às cores e aos modos a que agora chamam vintage, às aventuras à «Les Galapiats», aos rádios gira-discos portáteis (o meu era mais bonito, toma, toma, era verde e branco e tinha feitio de mala!), às descobertas do tempo das descobertas. Está-se perante um exercício de fino recorte visual, do mais puro cinema de animação, mas com personagens e décors reais. Uma aventura de adolescente, a que só mesmo aqueles que nunca as conheceram poderão desdenhar. É quase perfeito; em certa medida, uma outra face possível ao cinema de Burton…
segunda-feira, julho 16, 2012
Obituário: Celeste Holm (1917-2012)
Filmes em revista sumária #349
O hábito faz o monge, ou não faz? Pois, o certo é que o filho de Jean-Pierre Cassel quase nunca deixa de parecer um gangster disfarçado de monge e cedo se vislumbra que o rapaz é coisa ruim e depressa irá pecar, caindo na primeira tentação da carne… Mais tique menos tique e piscar de olho ao já mencionado, e bem, cinema profusamente choc de Ken Russell, «O Monge» resulta melhor em termos visuais do que propriamente pela história; graças a alguns, muitos, mesmo, planos fabulosos de claro e escuro, por obra e graça da fotografia de Patrick Blossier mas também, e de que maneira, dos cenários naturais que ele fotografa - para os mais distraídos: Santes Creus (Girona), Fontfroide (Narbonne) e as Bardeñas (Navarra). Além disso ficam apenas a sequência da procissão, a música de Alberto Iglésias (mais uma...), o subaproveitamento nítido de Sergi López e, sobretudo, a ideia de que Dominik Moll poderá fazer bem melhor; pelo menos, assim nos fez crer em «Henry, un ami qui vous veut du bien».
quinta-feira, julho 12, 2012
Filmes em revista sumária #348
Mais do que uma revisitação à «Procissão ao Calvário», uma das mais famosas obras do mais famoso dos Brueghel, evitando assim ao espectador uma abalada até Viena para a ver in loco; «O Moínho e a Cruz» é uma tentativa bem conseguida do polaco Lech Maiewski, de escalpelizar aquela imaginando-se o pintor e recorrendo ao “seu” olhar, i.e., uma miscelânea possível entre crítica de arte e registo cinematográfico.
O filme é bastante bonito (dá uns stills magníficos!) mas o que de melhor tem o filme são mesmo aqueles planos de profundidade em que as personagens reais vão passando pelas cenas como figurantes animados por sobre pinceladas de cores e matizes vários, tendo como pano de fundo a religião, uma época e um ambiente muito próprios. Falta, quiçá, ajustar, equilibrar, as personagens reais à dimensão grotesca do olhar de Brueghel, talvez a grande falha do filme; isso e alguns actores completamente perdidos. Rutger Hauer mantém-se em forma e saúda-se o regresso às telas de Michael York.
No cômputo geral, Greenaway talvez tivesse feito melhor enquanto objecto plástico, mas Rohmer fez seguramente muito melhor em «A Inglesa e o Duque», enquanto Cinema, alcançando o mix perfeito entre fluidez narrativa e deslumbramento visual, com recurso às tecnologias de ponta.
terça-feira, julho 10, 2012
segunda-feira, julho 09, 2012
Obituário: Ernest Borgnine (1917-2012)
sexta-feira, julho 06, 2012
quarta-feira, julho 04, 2012
Filmes em revista sumária #347
Será mesmo «O Cavalo de Turim» o filme derradeiro do húngaro Béla Tarr? Oxalá não, que o Cinema precisa dele. Mas se assim for terá sido este o seu melhor testamento ao Cinema. Um filme que é um grandioso épico, que nos dá conta da vã e inglória luta pela sobrevivência que um pai, uma filha e um cavalo de carga, teimam em levar por diante, contra, simplesmente, a ira de Deus pelo que os homens de mal fizeram. Um filme belo como poucos, feito do silêncio, que vale ouro, das personagens, e do imenso barulho do vento e do pó que tudo sufoca (ah, «The Wind»!). Feito também de um ritornello musical, omnipresente, mas também feito e sempre daquela extraordinária fotografia a preto e branco, que praticamente só os maiores do Mudo nos souberam dar (tirar). Um filme que remete imediatamente para o universo de Dovjenko e para a sua, nossa, «Terra». Os grandes-planos, as mesmas cenas fotografadas de ângulos diferente. Os pormenores no detalhe, de um olhar (o pai que interroga a filha com o olhar), de uma encenação (o pai deitado, morto?). A mesma batata comida de forma diferente. O poço que seca sem explicação, as lamparinas que não deitam luz apesar de cheias. Por fim a escuridão, sem hipótese de recurso. E a morte. Nada que o cavalo não tivesse pressentido antes (a recusa em trabalhar, em comer, o semi-cerrar dos olhos), nada que o vizinho não tivesse avisado a pai e filha, e nada a que os ciganos não fugissem (pérolas, a referência “não queres vir connosco para a América?”, seguida da oferta da Bíblia à filha). O melhor plano? O rosto da filha à janela, entre cá e lá, de que Lang teria gostado. Melhor sequência? A inicial, em que cavalo e camponês, regressando a casa, em esforço, são acompanhados pela câmara ondulando, ao sabor do vento, também ela em esforço, abrindo e fechando o diafragma, nunca parando, conseguindo durante largos minutos a proeza de nunca nos cansar, filmando que está as mesmas personagens, sempre, mas sempre de forma diferente, ora aproximando-se, ora afastando-se, subindo e descendo, avançando, recuando. É uma sequência sublime, de um filme tão sublime quanto pessimista, crú e conformista. É o Zaratustra de Nietzche, só que em vez de 10 anos, em 6 dias. E Deus descansou ao sétimo dia… ou terá Ele morrido?