quarta-feira, agosto 27, 2014

E pronto, começa hoje:


Sem mim mas com Antoine Doinel...

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terça-feira, agosto 26, 2014

Filmes em revista sumária #467


Filmar poesia não é fácil, mais fácil é filmar poetas em bloqueio, mais ainda filmar algo de forma poética, e indubitavelmente mais ainda será fazê-lo aparentando sê-lo (poeta), decalcando deste ou daquele realizador reconhecidamente poético, a sua lente, a sua marca, a sua capacidade de transpor para a tela os escritos e os sentimentos de outros (ou do próprio) que nos transportam para o belo.

Vem isto a propósito de «Tar», escrito e realizado por 12 alunos de James Franco (também produtor…) da Universidade de Nova Iorque, que versa sobre uma colectânea homónima de12 poemas da autoria do premiadíssimo poeta norte-americano Charles Kenneth Williams, tentando reter para a posteridade cinéfila vários episódios e memórias marcantes familiares, amorosos e criativos da sua infância, adolescência e maioridade, dos anos 40 aos 80 do século XX.

Agradece-se o entusiasmo de James Franco em dar visibilidade ao poeta e aos seus, dele, alunos, que, graças a ele (e, já agora, à presença de nomes como Jessica Chastain e Mila Kunis no elenco) poderão lançar-se a novos e providenciais projectos, mas acontece, porém, que o filme parece demasiado “copy-paste” da estética e da narrativa de Terrence Malick, por exemplo. Daí que seja ainda cedo para retirar conclusões acerca do empenho com que o senhor prof. Franco decidiu patrocinar os seus alunos e se o mesmo justificava ou não, ou se os seus meninos não terão apenas usado e abusado do Instagram em testes de final de curso.

O melhor deste filme escrito e realizado a 24 (não serão antes 25?) mãos é mesmo a poesia em fragmentos C.K. Williams e, claro, o rosto híper-fotogénico de Jessica Chastain (as melhores cenas são com ela). Não é pouco, convenhamos.

P.S. É favor não confundir «Tar» com Béla Tarr.

In O Diabo (26.8.2014)

segunda-feira, agosto 25, 2014

Obituário: Richard Attenborough (1923-2014)


Até ontem havia dois enormes manos chamados Attenborough (Richard e David) e agora já só há um. Desapareceu Pinkie Brown, o pequeno gangster de «Brighton Rock» (1947), desapareceu o realizador de «Gandhi» (1983) e, sobretudo, desapareceu uma verdadeira instituição da Velha Albion.

sexta-feira, agosto 22, 2014

A lista de Scorsese


Dos 39 filmes de que o Público tão oportunamente contou a história, há uns quantos que só mesmo Marty poderá explicar a razão de ali estarem, mas gosto imenso que tenha os três primeiros que tem.

terça-feira, agosto 19, 2014

Filmes em revista sumária #466


A Singapura de «Ilo, Ilo», do estreante Anthony Chen, não tem um átomo que seja daquela cidade-estado estereotipada, modelo, mesmo, que todos nos dizem ser a cidade mais cara do mundo, centro financeiro de referência, uma das mais evoluídas dos nossos tempos e onde é possível ter um PIB per capita de fazer inveja a muito 1º e 2º mundo e impossível encontrar-se um papel que seja no chão das suas «super-avenidas».

Não, a Singapura retratada neste dramático 100% oriental é uma cidade pouco mais que de subúrbio, onde os blocos habitacionais se confundem uns com os outros e a classe média aqui protagonista vive em cubículos o drama dos despedimentos sem aviso prévio, para logo ter as vidas viradas do avesso num abrir e fechar de olhos: um retrato do drama por que passou praticamente toda a Ásia desenvolvida em finais dos anos 90, aquando da crise financeira sobejamente noticiada ao tempo.

Em «Ilo, Ilo», aliás, muitas das peripécias vividas aqui pelas personagens de pai, mãe, filho e criada (filipina e chamada Teresa, claro) são como contadas na primeira pessoa, pois serão fruto da própria experiência pessoal vivida pelo realizador, enquanto criança.

O problema de «Ilo, Ilo», contudo, é que se puxarmos um pouco pela memória, logo começaremos a rever mentalmente vários filmes parecidos com «Ilo, Ilo», a maior parte deles orientais, e alguns deles com situações e peripécias idênticas. Isso faz com que «Ilo, Ilo» seja de menosprezar? Claro que não. Ou de que não vale a pena falar-se do cinema feito em Singapura, e que um dia ele será capaz de ombrear com o cinema sul-coreano, por exemplo? Também não, mas ainda lhe falta muito para lá chegar.


In O Diabo (19.8.2014)

quinta-feira, agosto 14, 2014

Obituário: Lauren Bacall (1924-2014)


Bacall só há uma e não por ter sido a primeira "respondona" do grande écran, que não o foi (antes dela já Mae West e Jean Harlow o tinham sido e muito mais, até), ou pelo arcar das suas sobrancelhas, nem por ser extremamente bela, ou que tivesse uma voz inconfundível, ou por ser insinuante em cada plano de câmara. Ou que fosse uma actriz particularmente dotada, muito menos que tivesse tido mais do que um punhado de papéis, melhor dito, cenas memoráveis. Mas foi porque teve isto tudo ao mesmo tempo. Razão teve a mulher de Howard Hawks em querer que ele a contratasse, por isso, obrigado, Nancy Hawks!

Filmes em revista sumária #465


«Um Homem Muito Procurado», do holandês Anton Corbijn, ficará para a história da 7ª Arte não como um excepcional filme de espionagem (está longe de o ser) ou a mais bem conseguida adaptação de um daqueles prodígios de narrativa emocionante, habitualmente saídos da mão hábil de Le Carré (não estamos perante nem uma coisa nem outra), mas antes, e apenas, como o derradeiro filme do malogrado actor Philip Seymour Hoffman, cujo trágico e recente desaparecimento continua por aceitar.

Com efeito, o seu carisma é tanto que, mesmo sem grande esforço, como aqui (quase que apetece dizer que o actor se representou a si próprio…), Seymour Hoffman é o centro das atenções deste “puzzle” sem garra (a que George Smiley chamaria um figo…), esmagando toda e qualquer cena das que entra e preenchem as excessivas duas horas de duração do filme.

A contemporaneidade da história (muçulmanos, chechenos, etc.) já limitava à partida o “campo de acção” do filme, por isso não é de estranhar que apenas na parte final do mesmo o espectador seja como que acordado face ao volte-face da história, onde, afinal, são todos bonzinhos, ainda que uns mais do que outros, e a grande conclusão parece ser a de que já não há espiões como dantes.

As personagens representadas por Robin Wright e Rachel McAdams andam um pouco perdidas nisto tudo, e Willem Dafoe deve ter gostado de fazer de banqueiro. Em relação a Anton Corbijin, não é por nada, mas já com «O Americano», em 2010, ele prometera mais do que depois veio efectivamente a conseguir; mesmo assim, contudo, continua a merecer o nosso benefício da dúvida, U2, Depeche Mode, Joy Division, Ultravox e Nirvana … “oblige”.


In O Diabo (12.8.2014)

quarta-feira, agosto 06, 2014

Filmes em revista sumária #464


O belíssimo «Ida» marca o regresso de Pawel Pawlikowski aos nossos cinemas e não podia marcá-lo de forma melhor, num filme em que o silêncio vale ouro e não é preciso dizer muito mais, e o preto e branco é uma palete de matizes que condiz a preceito com o estado de alma de um povo, o polaco, do pós-guerra, marcado indelevelmente por um passado ainda recente em que a sua consciência vincademente católica precisa de ajustar contas com a forma como tratou o judaísmo por alturas da 2ª Guerra Mundial.

«Ida» retrata de forma visceralmente comovente os sacrifícios de uma jovem noviça, cuja Fé é posta à prova em vésperas de professar votos; primeiro, lidando com os demónios da sua própria tragédia familiar, depois, provando das experiências de vida de que há-de abdicar inapelavelmente quando professar aqueles.

Um filme que, face ao niilismo generalizado, só podia ser polaco e que lembra imediatamente Bergman, claro, mas também, e muito, o cinema em estado puro de um David W. Griffith, no sufoco dramático em que as duas personagens femininas se desenvolvem (curiosamente as actrizes que interpretam os dois papéis centrais chamam-se Agata e Wanda, e a tia, protagonizada por Agata Kulesza é toda um papelão digno de uma Magnani…), na carga emotiva, épica, mesmo, da história e nos planos soberbamente recortados, tirados a regra e esquadro, assentes numa fotografia tão prodigiosa quanto pouco convencional (vejam-se, por exemplo, as vezes em que os rostos das personagens saem deliberadamente da objectiva, desequilibrando o centro do enfoque daquela – magnífico!).

Um filme que parece querer dizer que, para a nação polaca, Coltrane e o “jazz” norte-americano levaram a melhor sobre a 41ª de Mozart e o «Invoco-Te, Senhor, Jesus Cristo», de J.S. Bach, mas onde, no fim, para Ida, “apenas” lhe permitirão afirmar resoluta: estou pronta, Senhor.


In O Diabo (5.8.2014)