segunda-feira, novembro 30, 2015

Obituário: Setsuko Hara (1920-2015)


Feminina, frágil, fresca, gentil, singela e doce alma japonesa.

quarta-feira, novembro 25, 2015

Filmes em revista sumária #523


Esta mania tão americana de querer produzir remakes de sucessos cinematográficos realizados além-EUA (sobretudo os de índole policial, da Suécia à Coreia, passando por Espanha, França e um sem-número de outras origens) apostando forte nos espectadores que não viram o original ou são avessos a filmes falados noutros idiomas que não o inglês, e servindo-se de empreitadas de muitos milhões e de muitas estrelas (actores, realizadores, etc.), geralmente dá em fiasco quando se compara a decalcomania ao original. Foi no que deu «O Segredo dos Seus Olhos», de Billy Ray (que é conhecido pelo argumento que escreveu para «Capitão Phillips» e … mais nada):

Uma banal cópia do oscarizado filme homónimo argentino de Juan José Campanella (que co-produz esta nova versão…), feito, imagine-se, nem há 6 anos e, portanto, ainda relativamente fresquinho na memória de quem se interessa mais por filmes do que por fitas. O pior, mesmo, é que mesmo que fosse um original, não lhe valia de muito o chamariz do trio de protagonistas - Nicole Kidman, Julia Roberts e Chiwetel Ejiofor (sobretudo este).

Um filme que não tem garra absolutamente nenhuma. Com uma trama policial sem qualquer interesse acima da média e em que a tentativa huis clos nos gabinetes da Procuradoria é um completo falhanço, talvez porque a fotografia, quase sempre, não consiga captar sequer o ângulo certo quanto mais a expressão. Em que não existe qualquer tipo de centelha no romance platónico entre o agente do FBI e a procuradora de turno (mais vale uma troca de olhares entre os originais Benjamín Espósito e Irene Hastings do que todos os diálogos entre Ray e Claire) e o vilão, esse pobre coitado, dá vontade de rir.

Não é que não haja algumas cenas dignas de nota no anglófono «O Segredo dos Seus Olhos», que as há, desde logo aquela do agressivo interrogatório feito por Nicole ao terrível informador (risos), talvez a cena mais conseguida de todo o filme, mas ele perde redondamente com a versão em espanhol, pelo que fica a sugestão para futuras tentações: quando assim é, mais vale fazerem uma dobragem.


In O Diabo (24.11.2015)

quinta-feira, novembro 19, 2015

I ain't afraid to die anymore. I'd done it already.



Vem aí «The Revenant»!

terça-feira, novembro 17, 2015

JFC - 'I know not what tomorrow will bring.'


A esta hora já tudo, ou quase tudo, terá sido dito, escrito e mostrado acerca de José Fonseca e Costa, o homem de Cinema que nasceu em Angola, perto do Huambo, em 1933, para morrer na mui sua Lisboa, há pouco mais de 15 dias e sem aviso prévio, como muitos dos seus amigos, terrivelmente, lamentaram.

De quem começou por escrever críticas de filmes para acabar a rodá-los e a ser vítima dos críticos. Que foi marca indelével no Cineclube Imagem. Que não terminou Direito, para se dedicar à Sétima Arte. Que foi assistente-estagiário de Antonioni e se sagrou como um dos pioneiros do nosso Cinema Novo (que ele próprio, por sinal, considerava não existir). Que foi fundador do Centro Português de Cinema. Que a “culpa” disto tudo foi de Welles e de “O Terceiro Homem”, a que assistiu da 1ª fila de uma plateia a abarrotar, no seu-nosso Eden. E que o seu legado são os seus filmes: a ficção, o documentário, a publicidade, as curtas e as longas-metragens.

E alguns dos seus filmes terão sido exibidos em sua memória, um pouco por todo o lado e à medida do tempo que quem de direito se permite dar a essa coisa da Cultura. Terão sido repescados documentários e recordados episódios da sua via pública e privada: a prisão pela PIDE, a Tóbis ou, porventura, a brutal agressão de que foi vítima (a “degola”, como lhe chamou) em 2012, quando regressava à sua Rua Nova do Loureiro (outrora “uma das mais belas de Lisboa, pelas suas árvores e pelas flores que pendiam dos muros dos quintais, mas hoje uma rua abandonada e triste, onde os empresários do imobiliário actuam a seu bel-prazer, sem a presença da Policia Municipal e na mais total desprotecção de quem nela habita”) e lhe encostaram uma navalha à jugular, o atiraram ao chão e o pontapearam sem dó nem piedade – “assim começaram para mim as Festas da Cidade”, ironizaria.

Por cá continuaremos enquanto pudermos, caro Fonseca e Costa, já com muita saudade dos seus alertas, “out of the blue”, dos seus insultos, amigos, também, e solidários da raiva que sentia sobre os que em tempos confiara.

Como Pessoa escreveu e JFC conseguiu que se colocasse à entrada do Hospital de Saint-Louis: “I know not what tomorrow will bring”.


In O Diabo (17.11.2015)

terça-feira, novembro 10, 2015

Filmes em revista sumária #522


De repente, não mais que de repente, desatou-se a falar de Reggie e Ronnie Kray, os gémeos do submundo londrino dos anos 60, que se entretinham a chantagaar, extorquir, espancar e matar (entre muitas outras coisas, claro) todos quantos lhes faziam frente, entre o West e o East End, escudados que estavam numa teia de celebridades, intra e extramuros, de Diana Dors aos deputados ao Parlamento Britânico, de George Raft e Sinatra a Meyer Lansky, o conhecido associado de Luciano, no que se configurou como um sério precedente da globalização do crime.

Vai daí, o oscarizado Brian Helgeland, argumentista dos incontornáveis «L.A. Confidential», «Blood Work» e «Mystic River», abalançou-se à tarefa, que imaginou fácil, de rodar o filme definitivo sobre os manos boxeurs, celebridades do crime, talvez porque julgasse que o varrido Robbie e o straight Reggie (cada qual mais bruto, sanguinário e vedeta que o outro) se bastariam a si próprios como garantia. Eles e a vida à grande que levavam e que nem na prisão deixaram de ter, só terminando quando ambos se finaram por doença, então sexagenários. Puro engano.

Na realidade, «Lendas do Crime» pode até ser o filme definitivo sobre os Kray, mas não por ser um grande filme, que nunca é, antes parece um telefilme da BBC, bem feitinho e com uma recriação imaculada da década prodigiosa referida (e haverá algum filme inglês que não a saiba recriar?), mas antes por culpa inteirinha de Tom Hardy, aqui com mais uma interpretação portentosa, e em formato 2x1 – e como ele consegue que distingamos sempre os gémeos sem hesitar, não pela indumentária que possam apresentar mas pelos cambiantes de cockney, mímica e atitude que Hardy dá às personagens!

A australiana Emily Browning é Frances Shea, a malograda mulher de Reggie, e pré-anuncia uma carreira de sucesso. O resto é paisagem e um potencial roteiro turístico por Waterloo, Limehouse, etc., onde o filme foi rodado. Curiosamente, o Triumph Spitfire não chega a arrancar do lugar onde está estacionado…

Oh Deus, como teria sido este filme nas mãos de Scorsese!


In O Diabo (10.11.2015)

quinta-feira, novembro 05, 2015

This song of the Man and his Wife is of no place and every place; you might hear it anywhere, at any time.


«Sunrise: A Song of Two Humans», de Murnau, em 1927.
No Dia Mundial do Cinema.

terça-feira, novembro 03, 2015

Filmes em revista sumária #521


Não é por falta de “tabuleiro” nem por causa do cronómetro que «O Prodígio» (mais uma tradução patética na linha da grande tradição lusa) é um filme falhado. Parece é que Edward Zwick, que é um realizador capaz de muito boas coisas, ficou como que refém do seu próprio jogo, não conseguindo sair daquela situação terrível que é: por mais que mova as suas pedras a situação só piora, porque ele só as move porque a isso é obrigado, que a sua vontade era deixar correr. No xadrez há um termo para isso: zugzwang.

Dito por outras palavras: parece que Zwick apenas nos quis entreter com um biopic engraçado daquele que foi o maior xadrezista norte-americano, senão mundial, de todos os tempos, filmando-o em registo policial à anos 70 e à Guerra Fria, passando-se o essencial do filme na Islândia, anfitriã do combate intelectual, do embate xadrezístico do século (tê-lo-á sido de facto?), entre Bobby Fischer e o então ainda soviete Boris Spassky, em 1972.

Zwick não se esqueceu das peripécias operáticas e rocambolescas de que todos nós também nos lembramos, e é inatacável em matéria técnica de aberturas, defesas e respectivas variantes. E a histórica 6ª partida aparece com a relevância que merece. Contudo, esqueceu-se de três coisas:

Que em matéria de compulsão, da frenética e demente compulsão em mover pedras rumo à loucura, já Pudovkin superara tudo e todos em 1925 com o superlativo «A Febre do Xadrez», e que relativamente ao “circo” montado em redor dos torneios mais importantes e dos campeonatos do mundo de xadrez, Richard Dembo fez «La Diagonale du Fou», em 1984, um filme muito mais cerebral e quiçá mais bem conseguido que este agora de Zwick.

Esqueceu-se ainda do fundamental: Tobey Maguire, por mais que abra os olhos ou se esganice, nunca dará um Bobby Fischer credível (já Liev Schreiber “é“ Spassky!), e não deu. Há os episódios mas não há mais nada, nem sequer a influência poderosa da Igreja de Deus em Fischer.

«O Prodígio» pode ser boa propaganda, inclusive em prol do xadrez, mas em termos de posteridade da Sétima Arte, queda-se algures entre um Jogo de Damas, onde o que vale é tomar peças ao próximo até que este fique sem nenhuma, e um empate por xeque perpétuo.


In O Diabo (2.11.2015)

segunda-feira, novembro 02, 2015

Obituário: José Fonseca e Costa (1933-2015)