quarta-feira, novembro 30, 2011

Filmes em revista sumária #305


Há umas quantas coisas que saltam a olho nu com o andar de «Um Método Perigoso», desde logo uma constatação de facto: está longe de criar o ambiente de clausura no espectador, tão típico dos filmes assinados por David Cronenberg. Depois, há coisas que não se compreende como são ali possíveis, como por exemplo: não há uma única sequência de exterior que não se passe num rico dia de sol, o que sendo nos locais que se afirma ser, por outro lado há uma profusão de cenários de cartão que não lembra ao mais artesanal dos seus filmes, e até mesmo a trama da compita (profissional? racial? social? paranormal? outro?) entre Jung e Freud descamba numa tal confusão a partir do meio do filme, que só mesmo um psicanalista, ou um psicólogo analista (conforme o prisma) encartado será capaz de nos fazer luz.

Apesar disso, trata-se de um filme extremamente bonito, seja pela Suíça, seja por Viena; seja pelo apuradíssimo guarda-roupa; seja porque de facto o canadiano não sabe fazer filmes que o não sejam, mesmo os da sua fase mais escabrosa... Viggo Mortensen, esse, rouba todas as cenas em que entra, até mesmo a Keira Knightley, a qual ainda não foi desta que teve o papel da sua vida. A grande valia do tema é repescar da História a relação Freud-Jung. No resto «Um Método Perigoso» não aquece nem arrefece, muito menos chega a demonstrar o porquê da perigosidade do método.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Filmes em revista sumária #304


«In Time» (e porquê traduzi-lo para «Sem Tempo» quando devia ser «A Tempo»?) é um daqueles casos em que uma boa ideia, para não dizer excelente, é completamente estropiada por quem a leva à prática. Pouca sorte ou incompetência de quem rodou e protagonizou este filme, já que até coisas “simples” como os efeitos especiais são de rir – ex. a cena em que o jaguar artilhado que Timberlake conduz é projectado estrada fora está tão mal feita que até mete dó.

Verdade seja dita que não é a primeira vez que Andrew Niccol se perde em novelos narrativos trapalhões que estragam por completo bons pontos de partida, no caso presente: os humanos que lutam desesperadamente contra o tempo, medido em relógio digital subcutâneo a partir de acondicionamento genético (mal explicado), e em que todos (mesmo todos, ricos e pobres, etc.) não olham a meios para terem mais horas de vida (única moeda de troca) para além do seu prazo de 25 anos.

Excelente sci-fi em perspectiva, portanto, mas que de modo nenhum é correspondida para lá das sequências iniciais, bem pelo contrário. Enfim, é caso para dizer que não vale a pena continuarem a dar “Ferraris”, leia-se boas ideias, a quem comprovadamente só consegue conduzir Fiat 600.

Obituário: Ken Russell (1927-2011)


É impossível ficar-se indiferente aos filmes de Ken Russell. Talvez seja esse o melhor elogio à sua obra, apesar do celebérrimo, e merecidamente, «Mulheres Apaixonadas», uma das melhores adaptações cinematográficas de D.H.Lawrence, com fotografia e elenco de luxo. Pessoalmente, nunca hei-de esquecer, acima de tudo quanto Russell filmou, a projecção alucinada que é «The Devils» (1971), pelo frenesim e pela explosão vermelha em que mergulhou as suas obsessões máximas - sexo e religião... Sin can be caught as easily as the plague, e por um Oliver Reed em estado de graça (imagem).

quinta-feira, novembro 24, 2011

Fassbinder (5)

Fassbinder (4)


«Roleta Chinesa» (1976)

Fassbinder (3)

Fassbinder (2)


«Effi Briest» (1974)

Fassbinder (1)

terça-feira, novembro 22, 2011

Filmes em revista sumária #303


«La Piel que Habito» é um filme extraordinário, superlativo, mesmo, e a todos os níveis. Um filme a modos que um produto gourmet da “marca” Almodóvar, mas fortemente influenciado na excelência obsessiva de Cronenberg e Buñuel, por exemplo. Thriller psicológico, macabro desdobramento de personalidade(s), hermafroditismo em estado latente, prisão de segurança do próprio “eu”, piscadelas de olho ao bom e velhinho cinema de terror (paredes-meias com o da ficção científica, claro); e enredo, encenação e deslumbramento visual como que em permanente benchmarking pelo território dos realizadores de «Dead Ringers» e «Angel Exterminador».

Uma direcção de actores sem mácula (Almodóvar, por supuesto) e uma banda sonora a exigir compra imediata pelo mais mouco dos espectadores, complementam um filme tão bom quanto inclassificável, em que bastariam os contornos e o pilates de Vera, a lembrarem Irma Vep, ou as cenas que se passam naquela memorável boutique para que este filme fosse já um dos melhores do ano. Bienvenido sea, Pedro Almodóvar!

Para quando por cá?


Uma das obras-primas de Lubitsch, restaurada com afã após 80 anos de existência, e já exibido pelo Canal ARTE em Setembro passado, transmitindo em directo desde o Neues Museum ...

(Info obtida via amigo Fer)

segunda-feira, novembro 21, 2011

Filmes em revista sumária #302


Está visto que o bom gosto comprovadamente militante e o esforço abnegado de Clooney enquanto actor-realizador (e sei lá mais o quê) de «The Ides of March» não foram bastantes para fazer levantar este filme de uma certa banalidade, dada como certa à partida, aliás, após um visionamento atento do respectivo trailer. Talvez que fosse pedir demais a Clooney (fosse este um filme de John Frankenheimer, por ex., e talvez existisse a indispensável panache, sem a qual determinado filme pode nunca ficar para a posteridade, seja lá o que isso for), talvez não. Às vezes – e quem nos dera que assim não fosse - não basta “querer fazer” mas antes saber como fazer …

Ainda por cima porque filmes acerca da política (com “p”, leia-se), ou melhor, acerca dos seus bastidores, jogos, traições, chantagens, submissões e outros “ões”, bem como dos políticos (outra vez com “p”) há deles às carradas e de quase todos já todos estamos fartos, eu, pelo menos, estou … até porque temos na maior parte das vezes temos que levar com o(s) que temos. Muito sinceramente, já foi feito muito melhor sobre este tema.

As interpretações são boas (com Marisa Tomei à cabeça, enquanto jornalista) e há um certo clima, mas basta imaginarmos algumas cenas do poderoso «Júlio César» de Mankiewitz, por ex., ou seja, dos verdadeiros “Idos de Março”, para que este filme de Clooney esteja condenado a ser mais um filme sobre o mesmo; a intrujice da política que quase nunca é feita com “P”.

Uma série deliciosa


Tão delicioso quanto o que passa nesta série inglesa (e que outra origem poderia ela ter?), é podemos andar pelos «locais» onde a mesma foi filmada, não no imaginário Midsomer mas no bem real Oxfordshire, com paisagens e vilórias todas elas suculantemente deliciosas.

P.S. Esquecia-me de referir que Inspector Barnaby só há/houve um, John Nettles e mais nenhum...

sexta-feira, novembro 18, 2011

«Reaberta a investigação à morte de Natalie Wood, um caso com 30 anos»


Já lá vão 30 anos, e lembro-me que já nessa altura quase tudo ficou por esclarecer devidamente. Mais vale tarde que nunca, isto partindo do princípo que finalmente será tudo posto em pratos limpos...

segunda-feira, novembro 14, 2011

Brooks


Segundo The Criterion Collection:

«Beautiful, modern, shrouded in mystery: Louise Brooks was born on this date in 1906. As the immortal Lulu». Assino por baixo.

Filmes em revista sumária #301


Sem nunca ceder ao politicamente correcto e/ou enveredar pela via fácil da lamechice pegada, «50/50» consegue manter acesa a chama do espectador com surpreendente fluidez, talvez por ter optado por tratar o tema em apreço (duríssimo) não com pinças mas com naturalidade, quando não à bruta. Humor inteligente com fartura, um senhor actor chamado Joseph Gordon-Levitt (bem secundado por Seth Rogen e Ana Kendrick) e, claro, o final feliz, fazem o resto para que este agradável filme de Jonathan Levine se digira perfeitamente bem. E se o final tivesse sido outro?

sábado, novembro 12, 2011

Se a troika permitir...


Não escapará.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Desde há 22 anos!



Ou como UAL, Pei Pin e Murnau têm tudo em comum.

quinta-feira, novembro 10, 2011

Ele há dias assim


E hoje é um deles, perante tanto saco a precisar de...

quarta-feira, novembro 09, 2011

Montand, foi há 20 anos


Extraordinário intérprete, carismático e irrepetível, pois então. Para mim, fabuloso, e portanto indispensável ter Montand em «Z», «Police Python 357» e «Jean de Florette».

sexta-feira, novembro 04, 2011

Amanhã na Cinemateca Júnior


«Arsenic and Old Lace»

Look I probably should have told you this before but you see... well... insanity runs in my family... It practically gallops.

Filmes em revista sumária #300


Pequenas criaturas das profundezas do inferno, que sobem até cá acima pela calada do escuro por força de um pacto sagrado entre a Luz e as Trevas, e que gostem de se alimentar de dentes de criança e de outras coisas, eis o mistério de «Não Tenhas Medo do Escuro». Mas eu tenho, e tive ao ver este último filme saído do baú das mitologias e fantasias terríficas de Guillermo del Toro, especialmente naquela sequência da little thing escondida por debaixo do lençol, ainda que todos soubéssemos que ali estava… mas é aí que reside a eficácia do bom cinema. No resto, muito cliché, pois então, que o filme é de terror, a casa é amaldiçoada e há até desenhos que lembram projecções dos mais macabros dos contos de Lovecraft. Tive muita pena de Katie Holmes… E admirei, sobretudo, a perícia com as pequenas criaturas manejavam, esgrimiam e esquartejavam com as várias navalhas e artefactos afins...

quarta-feira, novembro 02, 2011

Filmes em revista sumária # 299


Uma lufada de ar fresco chegada directamente de Gales, este «Submarine», de Richard Ayoade; a fazer lembrar o mundo de Adrian Mole e que se vê sofregamente, quase de um trago. Por mim, podia continuar por mais 2-3 horas. O seu visionamento devia ser obrigatório para os candidatos a velhos precoces e aos resignados da vida, pelo menos esses. Viva a imaginação e o inconformismo, pois então, e viva o nosso próprio mundo a Super-8, já agora, o que se rodou, o que se roda e o que se há-de rodar. Brilhante realização e montagem, feitas de diálogos e introspecções, várias, e acompanhada por uma colagem assombrosa de imagens a partir de uma inesgotável e assolapada associação de ideias. É tudo e é muito.

I don't build in order to have clients. I have clients in order to build!


«The Foutainhead». Dedicado ao meu amigo Jeeves, perdão, António Sérgio.

terça-feira, novembro 01, 2011

Filmes em revista sumária # 298


Quem for ver «As Aventuras de Tintim - O Segredo do Licorne» (*) na expectativa de rever os desenhos e as personagens mágicas de Hergé “simplesmente” animados na tela, desengane-se desde já porque Spielberg soube, e bem, resistir à tentação da decalcomania de Tintim, Haddock, Dupont et Dupond, etc., evitando assim arriscar-se a cair (eu diria mesmo, na certeza de cair), em mais uma daquelas medíocres, más e também péssimas, adaptações da BD ao grande écran (e ao pequeno, claro). Ou seja, Spielberg (e Jackson, imagino), resolveu fazer o seu Tintim, ponto. Recorreu para isso a uma tecnologia em estado de arte e a um punhado de artífices do mais valioso que a sua já velhinha trupe nos deu (com John Williams à cabeça), o resto é Spielberg no seu estado mais puro, i.e., acção desenfreada, deslumbramento visual, aproveitamento de toda a extensão da grande tela, humor irresistível e muito, muito entretenimento; pouco lhe importando uma fidelidade ao original em papel e capa dura, ou mole, conforme as edições.

Nesse contexto, este filme de Spielberg arrisca-se mesmo a ser o melhor contributo para o relançamento da BD de Tintim a partir de agora, se é que ele, o herói, dele precisava. Dito, isto, fica o protesto pelos nomes que muitas das personagens e dos locais da aventura assumem em inglês, completamente estapafúrdios, diga-se. Sequências notáveis, são as do genérico inicial (pura animação, aliás) e a da feira; sofríveis, a do cais e da fuga do porto mediterrânico. Personagem irresistível, tanto no papel como na tela: Milu, por sinal a única personagem completamente digitalizada. Por mim, e em relação às «Aventuras de Tintim», continuarei em busca dos exemplares ainda em falta, de capa dura e dimensões normais, coisa agora rara por força das edições recentemente colocadas à venda em formato mais pequeno, vá-se lá saber porquê…


(*) Não me apanham em 3-D, portanto.