terça-feira, agosto 31, 2010

Enquanto isso

«Smith inclinou-se para poder ler os títulos empoeirados: Contos de Mistério e Imaginação, de Edgar Allan Poe. Drácula, de Bram Stoker. Frankenstein, de Mary Shelley. Calafrio, de Henry James. A Lenda do Vale Adormecido, de Washington Irving. A Filha de Rappacini, de Nathaniel Hawthorne. O Incidente da ponte de Owl Creek, de Ambrose Bierce. Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll. Os Salgueiros, de Algernon Blackwood. O Feiticeiro de Oz, de Frank Baum. A Estranha Sombra sobre Innsmouth, de H. P. Lovecraft. E ainda outros livros de Walter de la Mare. Wakefield, Harvev Wells, Asquith, Huxley, todos eles interditos. Queimados no mesmo ano em que foi proibido o Carnaval e o Natal

(Ray Bradbury, em O Homem Tatuado: "Os Banidos")

E que filmes no mesmo dia


Primeiro, «Chuka» (1967), um western quase esquecido, já na curva descendente do género, feito por Gordon Douglas, alguém que nunca fez maus filmes mas que continua relegado para segundo plano nos costumeiros resumos da matéria dada. Trata-se de um clássico dos filmes de cowboys, em que não faltam o forte dos "do Norte", índios, mexicanas e um renegado que resolve ser o herói da película, mesmo que aqui sob a pele de Rod Taylor, um actor que dificilmente nos convence ser um pistoleiro. O plano quase no final, do índio chefe é que realmente assombroso. No Canal Hollywood.




À noite, no ARTE, um biopic excepcional sobre Sagan (o ambiente recriado em Equemauville está magnífico), sobre o génio tortuoso, demente, senão recalcado, da autora de «Bonjour Tristesse», realizado por Diane Kurys e protagonizado por Sylvie Testud, no que até agora é o papel da sua vida.

Obituário: Alain Corneau (1943-2010)


Na galeria aqui de casa, Corneau tem 4 filmes de eleição, e três deles são policiais com um superlativo Montand: «La Ménace» (visto no Império), «Police Python 357» (visto chez-moi e o melhor de todos) e «Choix des Armes» (visto no Londres). O outro é uma maravilha poética e musical chamada «Tout Les Matins du Monde» (visto no Quarteto), com Jean-Pierre Marielle flutuando sobre as nuvens.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Vanessa e Nero



Mas acima de tudo, o que é bom de ver no «Letters to Juliet» é que a máxima "tout va bien quand finit bien" é verdadeira. Por vicissitudes várias, só há pouquíssimos anos é que Vanessa Redegrave e Franco Nero, ambos ícones cá nesta caverna, se casaram. Um amor que vinha dos tempos de «Camelot» (imagem abaixo).

Filmes em revista sumária # 221


Convenhamos que este «Letters to Juliet», em termos cinematográficos, é pouco mais que simpático e bonito, assente em prestações estimáveis, algumas, dos actores, e numa Verona (primeiro) e numa Toscânia (depois) deslumbrantes.

sexta-feira, agosto 27, 2010

Filmes em revista sumária # 220


Só os nórdicos são capazes de um filme assim, em permanente conversa com Deus, neste particular na sopesagem, na expiação dos nossos pecados. O perdão divino vs. o dos humanos, tantas vezes evocado e tantas outras feito de conta. Neste belíssimo filme que é «Águas Agitadas» (as tais águas de que celebérrima canção da dupla Simon & Garfunkel fala), o órgão de igreja (e que órgão, e que música, e que organista!) assume-se como centro da emanação do divino, na absolvição aos olhos do criador, capaz de tocar o coração do humano e, até, fazê-lo perdoar quando nada mais resta aparentemente. Curioso que assim seja em terras protestantes… Além do mais, está muito bem realizado e interpretado. E como C.T.Dreyer teria gostado deste filme...

quinta-feira, agosto 26, 2010

Lie to me? O tanas.


O Dr. Cal Lightman devia ser objecto de clonagem e entronização imediata nesta santa terrinha. A partir daí, nada do que é eleito, indigitado e detentor de cargo público em Portugal, corrupto, mentiroso, criminoso ou, simplesmente, tonto, ficaria como dantes. A expurga seria completa ao olhar clínico de Tim Roth, esse actor magnífico em absoluto estado de graça, porque on the lose, em «Lie to Me».

Colados para sempre #14

quarta-feira, agosto 25, 2010

Filmes em revista sumária # 219


Um tremendo de um barrete, é o que se pode dizer do soporífero chamado «Salt», assinado por um Philip Noyce em perda qualitativa e derrapagem evidente, e protagonizado por uma Jolie em piloto automático, redundando o filme apenas como um produto menor que «Lara Croft», ainda que para fãs mais adultos daqueles lábios. A acção é tanta, tanta que até cansa, o argumento é tão, tão “déjá vu” e tão recauchutado por um rol infindável de estereótipos que se fica sem saber o porquê deste filme. A única originalidade de «Salt» está na sequência em que Jolie vai dando choques eléctricos na tonta da condutora da carrinha da polícia e assim se vai safando do destino iminente, por entre choques atrás de choques. Chamar-se a este «Salt» um filme de espionagem, invocando filmes de outros temas, devia ser motivo para pesada punição desde o Olimpo da cinefilia. Quanto a Jolie, pede-se à gerência que a mude de género, pois já cansa.

Now, Mr. Dancer, get off the panties. You've done enough damage.


Caiu-me que nem ginjas na convalescença de ontem, às terríveis dores de olhos e frontal, e aos três violentos golpes de vómitos que me assolaram 48h, respectivamente em cor-de-rosa de certos suspiros, laranja de certa sopinha de cenoura e amarelo mortiço de certo pêro cozido. Valeu-me, para além da minha querida «Nurse Betty», o revisionamento televisivo do meu Preminger preferido, «Anatomy of a murder», um filme realmente portentoso. Dei por mim em lágrimas, perto do final: remédio santo.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Filmes em revista sumária # 218


Ele havia os «caninos brancos», fabulosa novela de London e os caninos dos dráculas, e agora há os caninos gregos, mais propriamente «Kynodontas» que quando caem (não os de leite mas os definitivos, e como sabemos os definitivos, se saudáveis, nunca hão-de cair…), são a miragem, a tábua de salvamento para 3 filhos adolescentes que só se poderão libertar das grilhetas tirânicas de uns pais tão protectores quão depravados, quando isso acontecer, logo …

O filme é uma sufocante e portentosa alegoria sobre o condicionamento do ser humano, reduzido a um estado de reflexos primários pavlovianos (filme aliás impossível de ser produzida pelo cinema anglo-saxónico) e que se vê com um nó na garganta. Yorgos Lanthimos pertence já à lista de cineastas incontornáveis, como agora se diz.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Colados para sempre #13

terça-feira, agosto 17, 2010

Filmes em revista sumária # 217


Realmente, que terá dado a Shyamalan para realizar « The Last Airbender»? Alguma memória menos bem enterrada dos episódios de «Ling Chung»? Uma visão proveniente de alguma sessão espírita de toque sofisticado? Terá visto demasiadas vezes balelas do tipo «The Neverending Story»?

Falando a sério, o filme é do mais puro delírio visual, não fora semi-produto (total?) da Meca de todo o aprendiz de feiticeiro, que é como quem diz da celebérrima firma de Lucas, «Industrial, Light & Magic». O autor de «The Sixth Sense» está totalmente ausente do filme, irreconhecível, até, enquanto venerado, e bem, autor de filmes de mistérios e do transcendente. Quis imitar, quiçá, Carpenter e aquele desconcertante «Jack Burton» dos idos de 80. Deu-se mal, para uns; ter-se-á dado bem, para outros, menos apesar de tudo, suponho.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Filmes em revista sumária # 216


Na verdade, «Partir» pouco mais é do que uma revisita à temática do amante da Chatterley, agora com toque mais cosmopolita, mais dramático (e que drama, minha nossa!) e politicamente correcto. Mas verdade, verdadinha, o filme “é” Kristin Scott Thomas e pouco mais; uma senhor actriz que aqui tem um interpretação de encher o olho, na exacta medida de cada uma das suas veias faciais, que incham e desincham como mais nenhumas de nenhuma outra actriz, verdade seja dita.

domingo, agosto 15, 2010

Pola!










Perseguido pela diva desde que saí de sua casa, fosse na praia ou no campo, o resultado foi que tive que cede à sua lubitschiana Mme.DuBarry, que jazia em cima do tampo de vidro há quase uma semana, sob o risco de não chegar a tempo de lhe dar lume. Viva a Negri!

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sábado, agosto 14, 2010

Enquanto isso, a alvorada do Homem:


E o prédio estremece todo. Nada mais se pode querer.

I'll follow him around the Horn, and around the Norway maelstrom, and around perdition's flames before I give him up.


De relance, há pouco, avistei lá longe, confundido com a nuvem de água expelida pelo leviatã, Ahab, agarrado à imensidão branca, descendo às trevas e ascendendo à luz (ai que os do avental já andam no seu encalce...); por força de génio partilhado a meias, essa é que essa, entre o poder da narrativa de Melville e a imagem crua e dura do filho de Walter Huston. Bem-aventurado DVD comemorando efeméride da 20th Century Fox.

Encontros imediatos na Puglia #5


Quem diria que estes dois ícones partilhariam de l'ulivo e que se haveriam de banhar nas águas maravilhosas da Torre Guaceto? Pois não só o fizeram de facto, como calcorrearam toda a costa do lado do Adriático até Leuca, passando por Egnazia, San Cataldo, e, cúmulo dos cúmulos, porque chegaram a partilhar as termas, Santa Cesarea Terme. Enfim, um filme nunca rodado em conjunto e de que só talvez John Huston podia ter tirado proveito.



(Foto de uma das praias da reserva de Torre Guaceto)

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quarta-feira, agosto 11, 2010

Obituário: Bruno Crémer (1930-2010)


Embora não sendo o melhor Maigret de sempre (esse é Jean Richard) a verdade é que, talvez injustamente, a herança cinéfila do fleumático Crémer fica inexoravelmente ligada às suas prestações de final de carreira enquanto comissário, saído da pena de Simenon. Mais uma vítima dessa praga chamada cancro.

Obituário: Patricia Neal (1926-2010)


Uma grande senhora e uma carismática e extraordinária actriz. Era a tua favorita, no tempo em que ainda eras, disso não me esqueço. Para mim ficará sempre ligada a esse superlativo filme de Vidor, «The Fountainhead».

segunda-feira, agosto 09, 2010

Encontros imediatos na Puglia #4



Saturados do calor e fealdade insuportável de Taranto e da busca pelo santuário rupestre de Mottola, a longínqua Castelanetta ficou ainda mais longe e não foi desta que visitámos o santuário ao seu mais famoso engenheiro agrónomo, que ali foi criado com o nome de Museo Rodolfo Valentino. Peço desculpas por não teres podido dançar o tango com ele, mas para ver Valentino é melhor vê-lo no écran do que neste tipo de sala ...

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domingo, agosto 08, 2010

Encontros imediatos na Puglia #3


Na melhor geladaria dos últimos tempos, o Super Mago del Gelo, propriedade da celebridade local, Mario Campanella (por sinal realizador premiado na sua juventude), eis que sou desafiado para um duelo por Lee Van Cleef, colado que está a um dos vários espelhos que ornamentam a sala mais kitsch de Polignano a Mare. Fiz má figura e caí redondo, fulminado por vários cones de melão, morango e coco, com panna, projectados por Sabata.

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Colados para sempre #12

sábado, agosto 07, 2010

Encontros imediatos na Puglia #2


No meio de uma selva de trulli, Alberobello de seu nome e merecidamente património da UNESCO, escarrapachado numa parede branca: I nitidi trulli di Alberobello, o artigo do autor de «Mamma Roma».

«...come in Alberobello, l'architettura di Massafra, intorno al motivo dell'abisso di rocce che le si apre nel cuore e l'allarga in spazi e vuoti grandiosi, è di una coerenza che fa pensare al rigore di uno stile. Non c'è nulla in questo paese, come a Alberobello, o come a Monte Sant'Angelo, a Ostuni, a Otranto, a Castro..., che incrini la purezza dell'architettura, che si è stratificata casa per casa, vicolo per vicolo, intorno alle cattedrali. E' una tettonica pura, al suo stato naturale: il tempo in un dato anno, o secolo, si è fermato, e la città si è serbata fuori di esso, fossile e incorrotta» (foto abaixo)

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sexta-feira, agosto 06, 2010

Filmes em revista sumária # 215



Aparentemente rotulado de filme de ficção científica, «Inception» é, ou pretende ser, muito mais do que isso, não fora Christopher Nolan o seu realizador, um homem capaz de nos surpreender sempre e sempre, mau grado algumas escorregadelas como a do segundo Batman, totalmente desnecessário e tonto. Alicerçado em três pilares fundamentais para que uma receita tenha sucesso: elenco de luxo (não tanto por serem estrelas, que o são, mas porque actores realmente de primeiríssima água – por ex. a interpretação de Ellen Page, a «ninfetta» de «Hard Candy», é superlativa!), uma banda sonora poderosíssima de Hans Zimmer (who else?) e, obviamente, um argumento tão original quanto intrigado e absorvente; este filme, obtusamente traduzido por um simples «A Origem», é um verdadeiro terror para quem sonha e sonha que sonha, mas nunca “desce” ao 3º grau, talvez por recear o mesmo fim que o da sempre bonita Marion Cotillard.

É, ao mesmo tempo, o território ideal para dar largas à imaginação, explorando géneros cinematográficos (policial, espionagem, «western», …) mas cruzando estádios e experiências sensoriais, na descoberta por saídas de labirintos minotáuricos e, aí, Nolan é mestre, como se sabe, jogando com a montagem e com a fotografia, mesmo que desta vez tenha a ajuda de efeitos especiais primorosos.

Não será uma obra-prima (por culpa de algumas coisas por explicar – que máquina é aquela que usam para sonhar e sonhar que sonham? A ligação é intravenosa? – e pressupostos bacocos – tanta coisa por causa de um determinado monopólio?), mas muito do tal cinema, fusão de géneros e estéticas, que há-de vir, ficará indelevelmente marcado por «Inception», e isso terá sido a grande mais valia desta obra porque parece ter conseguido “implantar” essa mesma ideia na maioria das mentes.

Pessoalmente, preferia que Di Caprio tivesse ido ter com Cotillard, e estive até ao fim a ver se os filhos se viravam ou não para o pai, pois o final do filme teria sido mais negro e adequado ao padrão Nolan, mas isso é a minha visão catastrofista desta realidade que nos rodeia. Seja como for, um excelente filme.


N.B: Também os tradutores decidiram implantar a ideia no espectador de que subconsciente é igual a inconsciente, e isso não é verdade. Um ponto que pode ser decisivo para o visionamento do filme. Coisas…

Enquanto isso


E nos intervalos entre o Adriático e o Jónico (aquele haveria de pôr K.O. este último), descobri um escritor fabuloso, que desconhecia por completo. Ignorante. Escusado será dizer que os restantes títulos editados pela Relógio d'Água passaram a fazer fila na listinha FNAC.

Encontros imediatos na Puglia #1


Não há dúvida: há sempre um Odéon no meu caminho. Na capital do barroco do tacão da bota mais bonita do mundo, que tanto entusiasmou Bénard da Costa, eis que esbarro num Cinematografo Odeon, feito em antiga enfermaria dominicana para peregrino de outra fé. Fechado para férias estivais. Pena, porque não devo voltar a Lecce.

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quarta-feira, agosto 04, 2010

Colados para sempre #11