sexta-feira, abril 28, 2006
Os familiares das vítimas do 11 de Setembro foram as estrelas, compreensivelmente, do filme recentemente rodado sobre os atentados mais espectaculares de sempre, cuja exibição teve lugar antes de anteontem na sessão do Festival de Tribeca, de obra e graça de Robert De Niro.
Ontem, no local mais improvável deste mundo...
Transformei-me em Belmondo, em duelo frente a frente com Robert Hossein, como nos western, em «Le Profissionnel» (1981), ao som daquela maravilhosa e inesquecível música de Morricone (mais uma). E o filme? Era menor, mas isso importa?
quinta-feira, abril 27, 2006
Los olvidados #13: André Cayatte (1909-1989)
Este é um daqueles nomes que eu próprio já olvidara, não fora ver na Tv, recentemente, um seu sobrinho da moda, irmão de um ex-coleguinha meu da primária de São Miguel, de nome João, jóia de moço e também ligado ao cinema, não só por via familiar, como por ter vivido paredes meias com o defunto Alvalade, e actualmente trabalhar como assistente de realização, acho. Posto isso, lembrei-me do realizador (para muitos maldito) de «Nous sommes tous des assassins» (1952), realizador tipicamente influenciado pelos cânones jornalísticos e jurídicos (áreas a que esteve ligado profissionalmente ... só seria realizador de cinema com 42 anos, depois de ser argumentista, advogado, escritor e jornalista), cuja obra não é tão escassa quanto os prémios que haveria de receber em Cannes, Veneza, etc., e quanto o grau de esquecimento a que tem sido votado por quem divulga cinema ao público português, isto apesar dos esforços de um Cinema Londres longínquo e da Cinemateca, de quando em vez. Talvez porque nunca foi muito com a cara dos críticos: Bazin chamou-lhe mecanicista ...
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Harrison Ford completamente à deriva
«Firewall» é mais um daqueles inconsequentes sub-produtos que Hollywood produz à razão de 1.000 exemplares / mês, produtos sofríveis e estafados para entretenimento pipoqueiro, aqui e ali apimentados por chamariz de vedeta e muita acção bonzão/vilão. No caso vertente, o enredo até começa bem, mas depois vai caindo a pique, imitando, e à medida que o objecto do sequestro e roubo, o dinheiro (que mais poderia ser?), vira virtual, totalmente virtual (alguém consegue fazer explicar aos americanos que essa coisa das transferências para contas offshore, em operações rebuscadas, com muito enter e download já estão mais vistas que revistas?), onde nem mesmo a vedeta (há muito que Harrison Ford anda pelas ruas da amargura) ou o vilão (no caso, vilão de pacotilha) conseguem sobrepôr-se à banalidade de uma história, mal amanhada e, pior, mal realizada. Salvam-se os minutos (poucos) em que vemos Alan Arkin e Robert Forster.
Para a continuação de João Bénard da Costa como Presidente da Cinemateca
Esta é a uma petição a bem da Nação! Toca a assinar, JÁ!
segunda-feira, abril 24, 2006
So how many rooms am I checked into in this shit-hole? («Memento», 2000)
Quando se cumprem dois anos de exílio, que era suposto serem um.
Hoje, oportunidade para (re)ver «Women in Love» (1969)
Hoje, às 15H30, e durante duas horas e nove minutos, vai ser exibido o melhor filme de Ken Russell, sobre um dos melhores romances de D.H. Lawrence. E terás ocasião para ficar a saber que os romanos tinham especial predilecção pelos figos por acharem que o interior era o que de mais parecido com o sexo feminino havia na natureza que nos rodeia. Eu sei que isso não está no romance, mas lá que é bem achado e um belo momento de cinema, lá isso é. E, depois, tens Glenda Jackson, Oliver Reed e Alan Bates ao seu melhor.
No malão está a solução
Maggie Smith está aí para as curvas, é a primeira conclusão a retirar desta comédia negra que dá pelo nome de «Uma Família dos Diabos» (Keeping Mum está mais de acordo com a história e com o espírito da coisa), paródia aos filmes de antigamente passados em pacatas aldeias, ou lares imaculados, que viram, de um momento para o outro, locais de eventos tão tenebrosos quanto inocentes; de que «A Vida é um Manicómio», de Capra, é expoente máximo. No resto, trata-se de um filme que cumpre plenamente a sua função de entretenimento e diversão, provando que ainda é possível brincar com as coisas sérias, e que tudo tem remédio à excepção de uma coisa. A realização é escorreita, entregando todo o protagonismo aos actores, todos eles impecáveis, onde até mesmo Patrick Swayze consegue convencer no meio daquela família amalucada a precisar de alguém que a meta nos eixos.
Sábado passado, em plena manhã da Festa da Música
Enquanto que no 3º andar o romantismo de Bach era levado ao extremo, com Air; no 7º, um dos mais geniais compositores de sempre era torpedeado com a Sheherazade, de Rimsky-Korsakov. Não contente com isso, ainda se lhe infligiu dose dupla do fulgor de Le Quattro Stagioni, e Bach ficou subjugado.
sexta-feira, abril 21, 2006
Em equilíbrio de fio-de-navalha
Esta é uma daquelas tardes em que compreendo perfeitamente os motivos que levam ao despoletar de «Elephant».
Em busca das «Action Transfer»
Corria à «Suprema» todas as semanas (ou seriam dias?), chateava o meu Pai, antes do galão e do croissant com fiambre da Primária. Só tinha olhos para os pacotinhos de plástico contendo aquelas decalcomanias inglesas, feitas de cartão dobrado em 3, com pinturas de fundo das mais variadas latitudes e aventuras: cowboys, animais selvagens, batalhas do séc.XX, cenas de pirataria, eu sei lá! E, depois, era verem-me babado manuseando o pacotinho, e sem perceber por que tinha de esperar até à volta para almoço, para então poder retirar dos pacotinhos aquelas imagens coloridas de panteras negras e marajás, piratas de perna-de-pau e galeões, Stuckas e Messerschmidts contra Spitfires e Hurricanes ... e colá-las com todo o amor deste mundo, devagarinho, calcando com a tampa de uma caneta, sem rasgar nem uma milésima de milímetro daquelas fabulosas decalcomanias (atenção: não confundir com as dos Kalkitos, parentes pobres e mal feitos). Perdi «esta» porque sou parvo só até certo ponto.
quinta-feira, abril 20, 2006
A pura aldrabice das campanhas para compra de carro
Primeiro era o preço, que afinal já não era (motivo: dois crómios). Depois, o rádio passava a ser Sony, destruindo tablier, mas poupava-se 200 €. O seguro era contra todos, mas nem todos eram segurados, porque enfim. Por fim, já me ofereciam uma caixa para colocar a merenda, mas com o feltro da cor dos estofos. Enfim, já me devia ter habituado à verdade cinematográfica que mostra os vendedores de automóveis, perdão, «veículos», como sendo todos uns aldrabões (William H.Macy, em «Fargo» (1996), dos manos Coen, é figura «incontornável»). Tive ontem a prova dos nove, na Smart.
Começa hoje mais um Indie
Este festival está a crescer a olhos vistos! Há muitas pérolas por encontrar. E o Rui Pereira só pode estar de parabéns. Ainda não é «aquele» festival de que falávamos, mas para lá caminha. Só é pena que ainda não seja onde merece: Roma+São Jorge+Odéon. Cronenberg, é para o ano?
quarta-feira, abril 19, 2006
Perfumes cinematográficos?
Entre L'Heure Bleue, tua hora mais que adorada, e os teus preferidos 5 e Mlle, da mais suave e perfumada casa do mundo. Entre o Joy, de minha Mãe e o Jicky da tia dela, de Cannes e dos Delayé e Vichy. Entre o Paris de YSL, da minha Avó de Mãe e dos Mudos; e o fantasioso Shalimar das mil-e-uma-noites, da minha outra Avó, de Pai, dos Packard e das aventuras à Joséphine Baker, e, posteriormente, de Marilyn, em que ficamos? Sentencio: Shalimar será! Delicodoce q.b. (como é regra na casa mais fétiche do mundo), colocado com a ponta do dedo, sem vaporizador e por detrás da orelha. Porque, tal como já to segredei: mummy likes Shalimar ... E, nos lugares de honra do pódium, 24 Faubourg, por ser o melhor dos perfumes com linhagem, e a lavanda da Puig, por ser o melhor dos perfumes da plebe.
terça-feira, abril 18, 2006
Sorry, wrong number!
Hoje, às sete da matina, toca o telefone e eu faço de Barbara Stanwyck:
- Is it from the airport rental car?
- Sorry, wrong number!!
- Is it from the airport rental car?
- Sorry, wrong number!!
Hoje estou triste
E BFC e ST são os culpados por eu estar triste, por se terem separado. Dois amigos recentes, mas nem por isso menos do peito. Provavelmente eles não sabem o quão triste fiquei depois da notícia, de chofre. Mas como acredito fielmente em finais à la Frank Capra, peço-vos: não desistam!
Ladrão que rouba a ladrão ...
Quando todo o mundo anda a enganar todo o mundo, vem logo à ideia aquela máxima hollywoodesca dos filmes dos anos 30-40: trust no one. O vilão é roubado pelo seu lugar-tenente, na circunstância o advogado da praxe, que reencontra por acaso o seu melhor amigo, que é enganado pela mulher, que já foi mulher do amigo; que é roubado pelo parceiro, que engana a mulher com a dona de um bar de strip, que engana este com aquele, de quem é paixão de longa data. Esquisita barafunda?
Nem tanto. Trata-se do mais recente filme de Harold Ramis, um realizador-actor que nos tem dado a ver uma mão cheia de interessantíssimas comédias, umas mais originais e negras do que outras, mas nenhuma tão negra quanto esta, que dá pelo nome de «Golpe a Frio». Pelo meio fica um rol de mortos e peripécias bem engraçadas, e um punhado de personagens estereotipadas ao jeito dos filmes (menores) dos manos Coen, ou do melhor dos piores de Jacques Tourneur. O filme podia ser melhor, é certo, mas também podia ser bem pior, ficando-se pelo semi-frio. Realce para a personagem de Oliver Platt, extremamente bem conseguida, que rapidamente passa de secundária a principal, por contraponto a três pesos mais pesados que rapidamente viram ligeiros: Billy Bob, John Cusack e Connie Nielsen.
Nem tanto. Trata-se do mais recente filme de Harold Ramis, um realizador-actor que nos tem dado a ver uma mão cheia de interessantíssimas comédias, umas mais originais e negras do que outras, mas nenhuma tão negra quanto esta, que dá pelo nome de «Golpe a Frio». Pelo meio fica um rol de mortos e peripécias bem engraçadas, e um punhado de personagens estereotipadas ao jeito dos filmes (menores) dos manos Coen, ou do melhor dos piores de Jacques Tourneur. O filme podia ser melhor, é certo, mas também podia ser bem pior, ficando-se pelo semi-frio. Realce para a personagem de Oliver Platt, extremamente bem conseguida, que rapidamente passa de secundária a principal, por contraponto a três pesos mais pesados que rapidamente viram ligeiros: Billy Bob, John Cusack e Connie Nielsen.
segunda-feira, abril 17, 2006
De volta aos Salésias com a 2
Ontem à noite, já quase no fim da Páscoa, ligo a Antena 2 e dou por mim de volta aos Salesianos do Estoril, àquela sala de plateia e balcão, onde os bons padres se revezavam como projeccionistas de filmes bíblicos, compatíveis com aquele écran de dimensão média, que nos enchia as medidas em dia festa de São João Bosco, em quadra pascal ou natalícia. Dei por mim revendo «A Bíblia», de John Huston. Saudades!
Passagem obrigatória pela Cinemateca
Amanhã, Terça-Feira, dia 18, sessão dupla a não perder, na Cinemateca: às 19h passa um duelo de gigantes em forma de jogo de gato e do rato, entre Laurence Olivier e Michael Caine (foi neste filme que aprendi que o caviar se deve comer em tostinha barrada a manteiga da vaquinha, acompanhada por champagne, claro) em «Sleuth» (1972), de Mankiewitz. Às 21h30, o último de Garbo: «Two Faced Woman» (1941), de Cukor. Eu, infelizmente, estarei retido em missão impossível, pelo que não poderei rever nenhum deles. C'est dommage!
Uma Spike Lee Joint totalmente 70's
É de aplaudir o regresso de Spike Lee ao policial depois do flop de «Ela Odeia-me»: mais uma vez revisita o universo dos anos 70, anos tão prolíficos em policiais de vulto e memoráveis, feitos de polícias e ladrões, bons e maus, que se cruzam e se confundem, em assaltos conseguidos e assaltos frustrados, com muita garra e muito chispe. Tudo isso perpassa pela quase totalidade de «Inside Man», desde o discurso inicial de Owen, à «apresentação» das personagens, ao descobrir do motivo (óbvio e banal) do assalto à gavetinha secreta de Plummer, até ao artifício da «fuga» de Owen, o qual, diga-se, serve a Spike Lee de veio de transmissão para uma «confissão», ao mandar via Owen algumas tiradas ao detective Denzel, em jeito de paródia cinéfila, nomeadamente quando lhe chama Serpico ou Kojak.
Spike Lee é um excelente realizador, sem necessidade de provar seja o que for quanto ao manejar da câmara, quanto à manipulação da montagem, à escolha da banda sonora ou à direcção de actores (é verdadeiramente notável o modo como extrai o máximo dos actores!). Os ingredientes estão lá todos e até nem falta uma Jodie Foster pejadinha de «glamour», provando por a+b o quão versátil pode ser, basta que lhe dêem papel à altura. O melhor desta revisitação dos filmes de Siegel, Aldrich ou Lumet, está nas entrevistas que a dupla de detectives vai fazendo às testemunhas do assalto, entrevistas filmadas a grão, quase monocromático (como se de registos documentais se tratasse), com muito humor e segundo sentido, tão bem feitas que parecem verdade. O melhor plano, aliás já filmado por Lee no fabuloso «A 25ª Hora», é aquele que nos invade a retina com um Denzel Washington em crescendo até ao grande plano a três dimensões; um Denzel furioso com o suposto abate de uma das testemunhas, sobre um fundo em plano fixo.
Spike Lee é um excelente realizador, sem necessidade de provar seja o que for quanto ao manejar da câmara, quanto à manipulação da montagem, à escolha da banda sonora ou à direcção de actores (é verdadeiramente notável o modo como extrai o máximo dos actores!). Os ingredientes estão lá todos e até nem falta uma Jodie Foster pejadinha de «glamour», provando por a+b o quão versátil pode ser, basta que lhe dêem papel à altura. O melhor desta revisitação dos filmes de Siegel, Aldrich ou Lumet, está nas entrevistas que a dupla de detectives vai fazendo às testemunhas do assalto, entrevistas filmadas a grão, quase monocromático (como se de registos documentais se tratasse), com muito humor e segundo sentido, tão bem feitas que parecem verdade. O melhor plano, aliás já filmado por Lee no fabuloso «A 25ª Hora», é aquele que nos invade a retina com um Denzel Washington em crescendo até ao grande plano a três dimensões; um Denzel furioso com o suposto abate de uma das testemunhas, sobre um fundo em plano fixo.
Os «Air» no Metro, bom ou mau sinal?
Hoje, na pior estação de metropolitano do mundo, ouço um excerto do fabuloso tema central composto pelos «Air» para o não menos fabuloso «Virgin Suicides». Será isto um bom ou um mau sinal?
Hostal com custo de oportunidade
Neste «Hostel» de Eli Roth só não se percebe o que está a fazer Quentin Tarantino, tal é o gosto duvidoso e o excesso de clichés que se nos dá a ver nesta cruzamento pechisbeque, de trazer por casa, entre o celebérrimo «L'Auberge Rouge» (1951), e o não menos célebre «The Most Dangerous Game» (1932) ... só que vale mais um só take de qualquer destes dois, a hora e meia de «Hostel». Mesmo que desta vez haja algum sexo para adolescente em pré-marcação de inter-rail, e sangue a rodos, muito sangue, em doses «reais», como diria Tarantino - o pior é que isso tudo tem um elevadíssimo, e previsível, custo de oportunidade... O engraçado nesta coisa inenarrável é a Eslováquia ser-nos apresentada como um antro de corrupção, deboche e perigosidade sem limites ... por muito menos o Cazaquistão quer silenciar Borat, perdão, Ali-G.
quinta-feira, abril 13, 2006
Nos 100 anos de Beckett
Convinha que todos ficassem com excelente ideia do quão excelente o irlandês era (é), visionando e deglutinando «Krapp's Last Tape», prodigiosa encenação de Egoyan, filmada para TV, e protagonizada por um actor e voz únicos: John Hurt.
quarta-feira, abril 12, 2006
Um dia, salvaremos o mais bonito cinema de Lisboa, acredita!
O meu amigo Orlando Lopes, da Theatre Historical Society of America, está tão empenhado na operação de salvamento do fabuloso «Loew's Paradise Theatre», na Bronx, quanto eu estou na do Odéon, fabuloso à nossa escala. Por isso é com satisfação que lhe desejo as maiores felicidades nos passeios ao derredor do Paraíso. Um dia haverá uma parceria Lisboa-Nova Iorque. Good luck, Orlando!
Quando é que irei deglutinar moléculas?
Segundo os fanáticos da "cozinha molecular" (e aqui logo a coisa peca por parva, pois se nós todos somos feitos de moléculas, constituídas por átomos, o que é a comida que passa pelo palato que não seja molecular?!), Adrià volta a ser o maior com o seu (quando será nosso? se eu falar para lá hoje, só me dão mesa para daqui a 1 ano ... e na Páscoa acho que vale mais a pena ir até ao mano Adrià mais novito, o rei dos chocolateiros de Barcelona!) «El Bulli». Eu, na minha humilde opinião, acho que qualquer restaurante de cidade, vila ou aldeia algures na Auvergne ou no Périgord Noir ganharia facilmente o galardão de rei da cozinha total.
O meu restaurante de eleição, isso já é pedir outra coisa, pois dele fazem parte a cozinha e a sala de jantar de «The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover»; a mesa, a toalha, o faqueiro e o aprumo de «The Dead», as iguarias de Stéphane Audran, em «Babette's Feast», e de Tognazzi em «La Grande Bouffe» e os convivas de «Oh Amici Miei».
O meu restaurante de eleição, isso já é pedir outra coisa, pois dele fazem parte a cozinha e a sala de jantar de «The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover»; a mesa, a toalha, o faqueiro e o aprumo de «The Dead», as iguarias de Stéphane Audran, em «Babette's Feast», e de Tognazzi em «La Grande Bouffe» e os convivas de «Oh Amici Miei».
terça-feira, abril 11, 2006
E teremos todos o mesmo barro?
Uma dúvida existencial se me coloca: seremos todos feitos do mesmo barro? Porque se assim for, por que carga de água o mito do golem é cozido de forma diferente por Wegener e por Duvivier (parecem iguais mas se aquele está pintado em porcelana, este está coberto de majólica)? Será por isso que o eixo Paris-Bona já não é o que era?
Num ápice, do violino ao violoncelo
Do violino de Vengerov ao cello de Casals ou Rostropovich (estou zangado com o Yo-Yo Ma pois o João disse que ele se tornou muito comercial, e eu acredito no João!). Nunca dei grande coisa pelo violoncelo (reconheço a blasfémia), e só me voltei para ele depois de «Tous Les Matins du Monde» (1991). Agora é omnipresente; o cinema tem destas coisas.
Los olvidados #12: Julien Duvivier (1896-1967)
Este francês é um dos realizadores mais esquecidos de tudo quanto é cinemateca, televisão ou cine-clube. Não sei porquê mas é isso que acontece. O certo é que é uma figura «incontornável», que apreendeu tudo quanto pôde de Feuillade e L'Herbier, génios do cinema mudo (e não só) francês. Dele escreveu Renoir nas suas memórias:: "Si j'étais un architecte et devais construire un monument du cinéma, je placerais une statue de Duvivier au-dessus de l'entrée. Ce grand technicien, ce rigoriste était un poète" ... e vamos acreditar, por uma vez, em Renoir... Para mim, que vi muito poucos dos seus mais de 60 filmes (de memória, só mesmo «Pépé le Moko» (1937) e os Don Camilo), tenho a dizer que o acho, acima de tudo, um criador de atmosferas. E atmosferas envolvendo o profano e o sagrado, os mitos e as lendas, o fantástico e o exótico. Em tom de crítica, sobretudo, uma vezes mais subliminar do que outras, mas sempre crítica. Morreu num estúpido (e não são todos?) acidente de automóvel. No fundo, no fundo, sempre esteve com o cinema mudo.
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Harley Davidson na China, passados 40 anos!
A notícia de hoje não é a derrota d' il cavalieri perante o mangas-de-alpaca, mas sim a entrada da Harley na China, ou seja, Peter Fonda, Dennis Hopper e Jack Nicholson a caminho de Pequim!
Encalhado nas Bombshells
Navegando, eis que encalho, qual navio à boca dos Açores, neste magnífico Bombshells, o sítio das bombas do écran (não confundir com divas, nem com boas actrizes, apesar de tanto umas como outras poderem, claro, acumular funções com o estatudo de bomba). Confesso que não tive tempo para verificar, tintim por tintim, se as minhas eleitas estavam lá todas. Quem? Fay Wray, Hedy Lamarr, Lamour, Priscilla Lane, Veronica Lake, Marilyn, Diectrich, Brigitte Helm, Carole Lombard, Deneuve, Norma Shearer, Angie, Bisset, ... e acabo, pois a lista (em pura desordem...) já vai longa. Estão? Não estão? Então deviam estar.
A matiné perfeita
«Oito para trás» (que era como se devia chamar este filme em português) é um filme simpático, sem pretensões para além de entreter e emocionar, na linha dos filmes para toda a família e com personagens de carne e osso que a Disney sempre fez no passado e de que o meu preferido é «Uma Ilha no Tecto do Mundo» (1974).
Desta vez as personagens centrais são 8 magníficos cães, do cão esquimó ao malemute, superiormente treinados (cada um deles teve um «duplo», o que perfaz 16 cães!), e que vivem na Antárctida uma aventura totalmente dramática, se bem que não tão cruel quanto as que os fabulosos livros de London nos dão, no seu (nosso) Klondike.
Desta vez as personagens centrais são 8 magníficos cães, do cão esquimó ao malemute, superiormente treinados (cada um deles teve um «duplo», o que perfaz 16 cães!), e que vivem na Antárctida uma aventura totalmente dramática, se bem que não tão cruel quanto as que os fabulosos livros de London nos dão, no seu (nosso) Klondike.
Instinto basicamente falso
O problema central deste «Basic Instinct 2» é cheirar a falso, literalmente, do primeiro ao último minuto (se fosse no mundo da política seria a credibilidade...). Cheira a falso desde aquela sensaborona sequência do despiste por entre ruas desertas, e em que Stone conduz o carro por entre acrobacias eróticas como se fosse Fângio; e vai cheirando a falso até à patética despedida no hospício. Até o palavreado porno saído dos lábios de Stone cheira a falso.
Isso, mais o argumento, as interpretações (julgava-se que Stone tinha partido para outra ..., e que farão ali Rampling e o seu botox?), os cenários, etc., etc. O melhor mesmo é ver Stone passear indumentária vária, e chegarmos à conclusão que os psicanalistas vivem muito bem! À primeira foi engraçado, à segunda apanhou-me desprevenido ... mas não me apanhará uma terceira.
Isso, mais o argumento, as interpretações (julgava-se que Stone tinha partido para outra ..., e que farão ali Rampling e o seu botox?), os cenários, etc., etc. O melhor mesmo é ver Stone passear indumentária vária, e chegarmos à conclusão que os psicanalistas vivem muito bem! À primeira foi engraçado, à segunda apanhou-me desprevenido ... mas não me apanhará uma terceira.
Vengerov está de volta!
Pois é, o siberiano, maior violinista da actualidade está de volta a Portugal, para um concerto de música de câmara com a pianista Lilya Zilberstein, e embora não esteja ainda esgotada a lotação (eu sei que não são as bichas para ver o Topol e «Um Violino no Telhado» (1971) no saudoso Monumental, que Abecassis demoliu sem que ninguém mexesse uma palha, eu sei...), o certo é que brevemente estará e então serão postos à venda bilhetes suplementares para o palco, a 30 € cada. Há por aí uma almofada para o meu traseiro?
sexta-feira, abril 07, 2006
"Fama e Segredo na História de Portugal", no Abrupto
Bela ideia a de JPP e da editora do novel livro de Agustina, a de terem colocado na Net algumas folhas a cheirarem a novo, que aguçam o apetite por mais este título da reverenda autora. Tiro o chapéu à juventude de Agustina, à sua irreverência e à pedrada no charco que este seu romance já é. Mas oxalá não haja quem depois de ler o livro, ou até mesmo estes aperitivos, não ache que ali está "a" História de Portugal ... seja qual for o seu verdadeiro paradeiro. Seria como acreditar nas patranhas da arca e do Graal, directed by Spielberg.
Este tempo faz-me alucinações
Tempo ingrato este que faz com que eu, oscilando, aspire a legionário, como Victor MacLaglen em «Lost Patrol» (haverá filme melhor sobre a Legião Estrangeira do que este que Ford realizou em 1934?) e, ao mesmo tempo, de veraneio por terras de Santa Margherita Ligure, no Miramare, que Olivier & Leigh tanto amavam ... Perdoem-me qualquer coisinha.
Los olvidados #11: Arturo de Córdoba (1908-1973)
Muito para além do estatuto de galã de filmes de aventuras e romances mais ou menos tórridos (ficou célebre a sua parelha com a argentina Marga López, com quem casaria), este foi o rei dos actores mexicanos, por muito que isso tivesse custado a Emílio Fernandez, Pedro Armendáriz ou Cantinflas. Mas tão grande foi o seu fulgor em Hollywood quanto rápido o seu regresso ao anonimato internacional, voltando ao trono no seu México. No total: mais de 300 filmes! Que estaria muito longe de imaginar quando deu os primeiros passos numa rádio de Yucatán, sua província natal. Para mim, contam essencialmente dois filmes. Um, no auge do brilho enquanto estrela: «Cesto de Gávea» (1944) (de Mitchell Leisen, outro olvidado). O segundo, no início do declínio, repescado pelo olho clínico de Buñuel: El (1953).
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quinta-feira, abril 06, 2006
Mau dia para cabeçudos!
Raindrops keep falling on my head... And just like the guy whose feet are too big for his bed, nothing seems to fit. Those raindrops are falling on my head, they keep falling ... Hoje está um mau dia para cabeçudos, mesmo que munidos de guarda-chuva. Não, não estou a falar dos Cabeças Redondas da guerra de Inglaterra, nem de Forrest Gump. Estou simplesmente a falar dos cabeçudos.
quarta-feira, abril 05, 2006
Cerca de 80 minutos de puro entretenimento
Não sendo uma coisa por aí além, «Ice Age: The Meltdown» é uma boa forma de derreter o gêlo de mentes mais pessimistas, onde às vezes me incluo. A história anda aos solavancos e mesmo troca às voltas a quem esteja à espera de qualquer sequência cronológica; muitas das personagens aparecem e desaparecem, ao sabor dos picos de talento dos animadores de serviço; e poucas vozes estão no seu devido tom e forma, sendo a melhor a de Leguizamo, claro. Mas é um boa maneira de rirmos e nos entretermos. A ver, sem grandes expectativas. A melhor personagem? O esquilo desesperadamente em busca da bolota.
terça-feira, abril 04, 2006
Resquícios de Paris #5
Ainda não me habituei a que nem Luanda, nem Suprema, nem Vává, nem Sul-América, nem Granfina, nem Frutalmeidas, nem Sílvia, nem Magnólia, nem Mexicana, são o Café Rostand.
Resquícios de Paris #4
Na Gare de Lyon há Le Train Bleu, esse monumento venerando da Belle Époque. Em Santa Apolónia, a "arte" é bem contemporânea. Em Orsay, somos esmagados por Carpeaux, pelos impressionistas e pela cobertura. A Gare do Rossio faz parte do roteiro de prostituição masculina, está forrada a tectos falsos e é um centro comercial.
Resquícios de Paris #3
Dou por mim parado defronte à chapelaria do Rossio, fazendo link mental para Marie Mercié, uma chapeleira da moda, junto a St.Sulpice. É por isto que não temos corridas de cavalos em Portugal?
Resquícios de Paris #2
Julgo que ainda existe a minha Quermesse de Paris, ali por debaixo do Hotel Avenida Palace: o paraíso da minha meninice; soldadinhos da Elastolin e da Timpo, carrinhos da Solido e da Corgi, a Mecano, a Billy Toys, enfim, o mundo a meus pés; e vou num pulo até lá. Cruzes canhoto, foi substituída há mais de 15 anos por uma perfumaria! És parvo ou quê? Então não sabias que a Paris em Lisboa já era?
Resquícios de Paris #1
Desesperadamente à procura de Jo Privat, esbarro nos olhos especados de empregado "especializado". Falo-lhe em acordeon, nas valsas musettes, em Paris. "Só temos Richard Galliano", diz. Falo-lhe em alhos, responde-me em bugalhos. Um dia terei a obra completa de Piazzola, portanto nunca compraria Galliano. Questão de golas pretas e de genuinidade.
Este país cheio de cromos
Cromos, tive-os de Olimpíadas várias, dos Cem à Hora, dos Mundiais de Futebol de 74 e 78, dos campeonatos de futebol da década de 70, mais ao Wickie, aos Animais e alguns mais, que ainda hoje me preenchem a memória visual para algum nome, circunstância ou efeméride. Mas de todos, todinhos, são os da História de Portugal que mais me ajudam e de que tenho maior gosto em rever: aquelas folhas de caderneta com Afonso Henriques na capa, contendo cromos sabiamente desenhados por Carlos Alberto Santos (parabéns, João Mimoso, pelo magnífico site!), em que a toda a nova edição lá se juntava um cromo com Caetano e/ou Tomás (a minha colecção acabava com o Senhor Doutor de Santa Comba) são merecedoras de ser folheadas com luva de pelica.
Los olvidados #10: André de Toth(1913-2002)
A História continua em dívida - e os espectadores do "agoramente" muito mais - para com este húngaro cultíssimo e de gosto refinado (e como isso se reflectia na fotografia cuidada, no pormenor do décor, no grande plano ...). O cúmulo ocorreu este ano aquando da estreia desse objecto lamentável que é a pseudo-remake de «House of Wax» - prodígio de encenação Tothniana, barroca a 3-D até dizer basta. Pois bem, ninguém escreveu uma linha que fosse em defesa do bom nome do autor violentado naquele que foi um dos seus filmes mais notáveis, simplesmente olvidaram-no. Versátil como poucos (até no campo privado: 7 casamentos e 19 filhos), como era habitual nos da sua geração, a 2ª Guerra Mundial haveria de o exilar para Inglaterra de Korda (onde realizaria um dos seus melhores filmes, «Dark Waters», com uma superlativa Merle Oberon), e desta para Hollywood, onde se celebrizaria em filmes de culto, em três géneros específicos: terror, policial e western (especialmente com Randolph Scott). À pergunta se preferia os filmes de série-B, respondeu: "Yes. At that time, I had worked in a range of budgets from two hundred or two hundred fifty thousand dollars up to six or seven hundred thousand; but no more. Why would I want to do a “million dollar picture”? I didn't need a million headaches. With the lower budgets, most of the time, I was left completely alone" - aos mais interessados aqui fica o link para a entrevista indispensável: http://www.sensesofcinema.com/contents/03/25/de_toth_interview.html.
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segunda-feira, abril 03, 2006
Como se pode fazer um bom filme sobre prisões
Por acaso, anteontem, dei por mim ligando a tv e eis que revejo «Cool Hand Luke» (1967), de Stuart Rosenberg, e ali fiquei, colado ao écran. Se fosse hoje, aquele filme teria litros de palavrões e obscenidades, pancadaria q.b., e um Seagal ou um Stallone à mistura. Céus, como se faziam bons filmes sobre prisões e presidiários. Não que este filme supere o insuperável «I Am a Fugitive from a Chain Gang» (1932), de Le Roy, com Muni, mas é um prazer vê-lo. Obrigado Canal Hollywood!
«Ninguém sabe», mas devia saber
Esta história comovente e profundamente dramática, que relata o abandono a que são votados 4 meninos por mãe desnaturada, podia ser ainda mais trágica e feroz do que foi, se fosse lusitana, como se comprova lendo os diários cá do burgo.
Como não é, fica o registo 100% oriental da luta titânica que um rapaz de 14 anos leva em prol da defesa e dignidade dos seus irmãos mais novos, não hesitando em abdicar da sua própria meninice, mas sempre espartilhado pelos limites da vergonha e da honradez, conceitos cada vez mais utópicos nos tempos que correm.
O filme é extremamente belo, e o silêncio diz tudo ou quase tudo, como contraponto ao lufa-lufa do quotidiano nipónico, totalmente impermeável e avesso a sentimentalismos líricos, por mais humanos que sejam.
Como não é, fica o registo 100% oriental da luta titânica que um rapaz de 14 anos leva em prol da defesa e dignidade dos seus irmãos mais novos, não hesitando em abdicar da sua própria meninice, mas sempre espartilhado pelos limites da vergonha e da honradez, conceitos cada vez mais utópicos nos tempos que correm.
O filme é extremamente belo, e o silêncio diz tudo ou quase tudo, como contraponto ao lufa-lufa do quotidiano nipónico, totalmente impermeável e avesso a sentimentalismos líricos, por mais humanos que sejam.
Volta a haver esperança para este mundo!
Há pouco, no local mais improvável e mais execrável do mundo que me rodeia, o rádio tocava «Moon River».
Falhas nas gargalhadas
Por causa deste oportuno comentário, e porque a minha consciência mo obriga, aqui fica o meu pedido de desculpas (involuntário) a Jack Lemmon, Waltar Mathau e Tony Curtis ... e (voluntário) a Danny Kaye e Bob Hope ... eles não se importam, espero.
Alguém quer espreitar no meu View Master?
Funciona às mil maravilhas e é beige, modelo "G", e uma vez rodadas aquelas rodas dentadas, feitas de papel branco incrustado com slides coloridos, devidamente legendados, pode-se mirar a Formiga Atómica levantando num só braço um imenso porta-aviões, e o Ursinho Pooh de cabeça enfiada no buraco da árvore mais próxima, lambendo o mel de colmeia habitada.