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Brokeback Mountain» é, acima de tudo, um excelente melodramático, e um não menos excelente «western». Mas um filme de «cowboys» da segunda metade do séc.XX, com tudo o que isso acarreta de bom e de mau. E é nessa perspectiva que deve ser visto, apesar de todos sabermos que, sinais dos tempos, não fora o «picante» que tem (independentemente de ser um condimento totalmente oportunista), provavelmente a atenção que este filme teria seria menos de metade daquela que tem conseguido nas parangonas da imprensa e no efeito boca-a-boca, não pelo imenso mérito cinematográfico que tem, mas pela coisa em si mesma.
Não que o filme seja veículo de propaganda do «lobby gay» (afinal de contas a coisa já foi filmada, em tom mais filtrado, subliminar, se se quiser; basta ver «
Warlock», por ex.), ou de outro qualquer (o dos fabricantes de camisas de flanela aos quadrados, por ex.), que não o é, mas lá terá o seu «anexo de e-mail», de que só fará «download» quem quer. Por isso, neste filme (e é só disso que se trata), onde uns verão uma história de amor do mais clássico que Hollywood alguma vez nos deu; outros verão um precedente perigoso o desta montanha perversa; e outros ainda um filme sobre um caso tão escabroso e marginal quanto o dos pastores da Sardenha profunda que faziam sexo com as ovelhas, ao cair da noite, em «
Padre Padrone» (1977), apenas curioso.
Voltando aos predicados do filme, é impossível deixar de registar a extraordinária fotografia, verdadeiramente assombrosa, do mexicano Rodrigo Prieto, e a capacidade de Ang Lee em lidar de forma objectiva e franca com os grandes espaços e com os cânones norte-americanos. Já os actores, uns estão mal (é disso exemplo um esforçadíssimo Heath Ledger), outros estão assim assim (Jake Gyllenhaal engrenou o piloto-automático desde «Donnie Darko»), e outro(a)s estão espantoso(a)s: Anne Hathaway e Michelle Williams, como mulheres traídas.
Mas feitas as contas finais, o que temos? Temos um filme que talvez um americano dos sete costados nunca teria feito, ou ousado fazer. Por isso o simbolismo de ter sido Eastwood, o pilar do protótipo do duro, a entregar o globo de ouro a Ang lee. O que dirá de tudo isto o verdadeiro «cowboy» dos anúncios da Malboro? Nunca saberemos!