quinta-feira, dezembro 29, 2005

FELIZ ANO NOVO!

Acabo o ano voltando ao meu primeiro vício e dando um conselho a todos quantos se declaram cineastas, fazendo minhas as palavras de Kubrick (obrigado, Michel Ciment... vales todos os 8 cts. que me custaste!):

"The point to stress is that anyone seriously interested in making a film should find as much money as he can and quickly go out and do it."

quarta-feira, dezembro 28, 2005

A jóia de família somos nós todos?

"A Jóia da Família" é um filme agradável de se ver, propício ao Natal nevado e ao aconchego do lar; com bons momentos de drama e comédia familiares, mas oscilante entre o politicamente correcto de um casal gay e "bi-color" que adopta um bébé (há algumas mensagens evidentes), e a irreverência to break free de uma Sarah Jessica Parker ao seu melhor.

O filme começa muito bem, logo no genérico (eu diria mesmo, no seu poster), com uma sequência de postais antigos de Natal (por cá, onde páram esses postais?), e mantém-se à tona com uma série de personagens e diálogos bem conseguidos, e ainda melhor interpretados por Diane Keaton (esta senhora está cada vez melhor!), Rachel Adams (idem), Clare Danes (ibidem), Owen Wilson (tal mano...), Craig T.Nelson e, até, Dermot Mulroney.

Vem aí também o novo filme de Lynch:

«INLAND EMPIRE». Sabe-se que é em formato digital, tem sido filmado entre L.A. e a Polónia. E que tem Laura Dern, Jeremy Irons, Harry Dean Stanton e um Kyle MacLachlan irreconhecível na sua cabeleira prateada ... e tem Badalamenti. Como acontece quase sempre com o fabuloso Lynch, filma sem ter o argumento terminado. É preciso mais?

Uma piroseira de conto de Natal

Como diriam os brasileiros, Chazz Palminteri «pirou»:

Não contente com o facto de «Noel» ser uma tentativa pirosa de recriar os saudosos filmes de Capra, tem ainda a suprema desfaçatez em colocar Penélope Cruz como cabeça de cartaz, à frente, inclusive, de Susan Sarandon!!

Que saudades do meu televisor Siera!

Por causa de uma conversa com o amigalhaço FCA, eis que salta à discussão um nome de televisor de prestígio: Siera. O dos meus avós paternos, em caixa de madeira nobre, lá dos anos 50. Pré-preparada para a cor. E já com estereofonia e ligação a auriculares. Com um preto e branco deslumbrante, a fazer lembrar as tonalidades dos anos de ouro de Hollywood. Vi muitos e bons filmes naqueles dois canais (às vezes, rodando os botões conseguia-se ver um outro canal estrangeiro, por entre uma "chuva" censora), RTP1 e RTP2 (sobretudo nesta), até que pifou em minha casa, em finais dos anos 80 (apesar do estabilizador de corrente, nunca se restabeleceu das falhas electricidade no Portugal do pós-25 de Abril). Limpava-lhe o pó e encerava-a regularmente. Nunca se avariou, e apanhei um valente choque uma vez que a tentei espiolhar. Sempre a julguei de origem sueca até que um dia descobri que era originariamente belga, mas do grupo Philips. Que imensas saudades tenho daquela Siera!

terça-feira, dezembro 27, 2005

Lista dos melhores filmes 2005 (*):

1. «Saraband», de Ingmar Bergman.
2. «The Aviator», de Martin Scorsese.
3. «Million Dollar Baby», de Clint Eastwood.
4. «Charlie and the Chocolate Factory», de Tim Burton.
5. «Starwars: Episode III», de George Lucas.
6. «The Saddest Music in the World», de Guy Maddin.
7. «Mar Adentro», de Alejandro Amenábar.
8. «De Battre Mon Coeur S'Est Arrêté», de Jacques Audiard.
9. «Crash», de Paul Haggis.
10. «The Constant Gardener», de Fernando Meireles.

(*) Como é óbvio, «Sunrise», de F.W.Murnau, é o melhor filme deste ano, mas trata-se de uma «reprise».

Tecnhicolor completou 90 anos de idade

Para os interessados nestas coisas, este é o melhor resumo sobre a sua história, sendo que convém ao comum dos mortais fixar apenas isto:

1. O seu fundador foi o Dr.Herbert Kalmus, em 1915, e foi o segundo sistema a cores, depois do britânico Kinemacolor.


2. Originariamente, era um sistema de duas cores: encarnado e verde.

3. As cores vivas eram essencialmente devidas ao facto da cor ser só adicionada ao processo depois das cenas finais.

4. O Technicolor caiu em desuso devido a ser demasiado caro.

Para uns será apenas mais de uma de muitas técnicas (Additive, Cinecolor, Colcim, Gaumont, Horst, Kinemacolor, Kodachrome, Pathé, Subtractive, etc.) usadas para filmes a cores. Para mim Technicolor é apenas o sistema perfeito. Porquê?

Por causa de: "Snow White and the Seven Dwarf" (1937), de Disney; "The Adventures of Robin Hood" (1938), de Curtis; "Wizard of Oz" (1939), de Fleming; "Gone with the Wind" (1939), de Fleming; "Fantasia" (1940), de Disney; "The Thief of Bagdad" (1940), de Powell & Pressburger; "Black Narcissus (1947), de Powell & Pressburger; "The Red Shoes (1948), de Powell & Pressburger; "An Amwerican in Paris" (1951), de Minnelli; "Scaramouche" (1952), de George Sidney; "Singing in the Rain" (1952), de Donen e Gene Kelly; "Rear Window" (1954, apesar de ser originariamente em Eastmancolor), de Hitchcock; "Vertigo" (1958), de Hitchcock; "North by Northwest" (1959), de Hitchcock; "The Birds" (1963), de Hitchcock.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Feliz Natal para todos e que do céu vos caia uma estrela!

Este blogue entra de férias de Natal e deseja a todos os seus visitantes um Feliz Natal, e que "It's a Wonderful Life", de Capra, se vos aplique a todos.

"What is it you want, Mary? What do you want? You want the moon? Just say the word and I'll throw a lasso around it and pull it down. Hey. That's a pretty good idea. I'll give you the moon, Mary."

Diálogo surrealista à volta de Truffaut

Na FNAC, na ante-véspera de Natal:

- Têm à venda o último filme de François Truffaut? Parece que ainda não passou em televisão! - perguntava uma senhora bem composta, pronunciando François Truffaut comme il faut.
- Vou ver ao computador. - respondeu, amável mas impreparado, o funcionário.

A Noiva Cadáver de Burton

Antes de mais, um comentário: muito gosta Tim Burton de colocar a sua noiva Bonham Carter nos mais incríveis e bizarros dos papéis, sob mil e uma caracterizações. Em "Corpse Bride" ela é mesmo a personagem central do filme!!

Por sinal um filme de animação feito da mesma técnica (stop motion) de "A Nightmare Before Christmas", mas muito mais elaborado, visitando desta vez o universo expressionista (piscadelas de olho à personagem de Cesare no caixão, de "O Gabinete do Dr.Caligari", Às mãos, de "Nosferatu", À lagarta com voz de Peter Lorre), mas sem nunca abandonar o humor negro (só aquele "I don't give a damn" valeu o bilhete!), e todos aqueles prodígios visuais e cenográficos inventivos (o mundo gótico "cá de cima" e o colorido "lá de baixo", as traças de um lado, a borboleta do outro; as personagens no bar "lá de baixo", etc.) de que Burton é mestre.

Um grande filme de animação, para miúdos e graúdos!

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Desastre nas Ferrovie dello Stato!

O comboio é o meu meio de transporte favorito desde que vi "Strangers on a Train" (1951) e "Brief Encounter" (1945) . De preferência saltando de binário em binário, e escalando o "sottopassagio" da ocasião. Por isso fiquei aterrado com as notícias de ontem, desde Itália.

Oliver Twist, de Polanski, apenas belisca o de Lean

A primeira impressão com que se fica desta adaptação de Polanski do clássico de Dickens (aconselho leitura atenta à edição velhinha das Edições Romano Torres!), é que estamos no meio das cores acinzentadas da ruralidade cruel, e da exploração infantil e de tudo o mais que ele nos deixou, ele, de quem disseram um dia ser o exemplo vivo da diferença que existe em ir à escola e ter educação. E Polanski, nesse aspecto, fá-lo na perfeição, tal qual o havia feito com Hardy e "Tess", aliás, provando que a cor não é inimiga da ficção dickensiana, muito pelo contrário.

Mas feitas as contas finais, e uma vez chegados à Londres vitoriana, o filme começa a cair aos poucos e poucos, ao ritmo de cada golpe que os fedelhos ladrões dão no mercado de bairro. Será por culpa das extravagâncias de Ben Kingsley, que compõe um Fagin a pensar em acabar com a concorrência imbatível de Guiness, dos anos 40? Ou será daquele Bill Sykes que quer fazer o mesmo em relação a Robert Newton, e que acaba por perder o protagonismo para o cão? O certo, certinho, é que mal este Oliver Twist passa ao esconderijo da quadrilha de larápios juvenis a mando de Fagin, logo desaparece o brilho dos primeiros momentos, em que autênticas pinceladas de talento de Polanski (algo parecido ao que se passava com "O Pianista", aliás)nos dão momentos de rara beleza, algures entre o romantismo e o neo-realismo.

E é pena, é pena porque a história é belíssima, intemporal mesmo, ainda que por demais conhecida. Pode, por isso, David Lean continuar a descansar em paz, que o seu Twist de 1948 continua a ser a única adaptação que passará à História como sendo "a" adaptação de Twist; até porque a versão musicada, de Carol Reed, essa nunca chegou a contar absolutamente para nada, pese embora a excelência da representação do então pequeno Oliver, e apesar dos Óscares que ganhou.

Os maiores actores do mudo: Lon Chaney (1883-1930)

Termino esta breve rubrica (*) sobre os maiores actores masculinos do mudo, com o meu actor preferido, conhecido em todo o mundo como The Man of A Thousand Faces. Chamavam-lhe também masoquista, dadas as constantes judiarias físicas que este filho de surdos-mudos fazia a si próprio, em busca obsessiva da perfeição na interpretação de deficientes e deformados, físicos e mentais, de toda a ordem. Chaney tinha uma pantomina, um repertório de gestos e esgares verdadeiramente assombrosos. Dizia de si próprio: "My whole career has been devoted to keeping people from knowing me". Foi artista de circo e diz-se que a sua carreira no cinema começou ao serviço das multidões de quasi-figurantes nos épicos de Griffith. Tem uma filmografia impressionante (mais de 150 filmes) e seria penoso estar aqui a enumerar os papelões que conseguiu, ao serviço de muitos e bons realizadores. No entanto, o seu trabalho com Tod Browning é o que mais marcas deixa. O melhor papel de todos? Talvez em "The Unknown", de Browning, em que representa um artista de circo que se auto-mutila por amor a Joan Crawford (verdadeiramente de chorar lágrimas). Ou será "He who gets Slapped"? Ou "The Blackbird"? "O Fantasma da Ópera"? No seu único filme sonoro, viria a compôr 5 vozes diferentes (diziam que além de grande dançarino, tinha uma boa voz de barítono). Viria a morrer de cancro na garganta, o que não lhe permitiu representar Drácula (Lugosi tomar-lhe-ia o papel), provocado, quem sabe, pelo pó de giz que usou como neve artificial em um dos seus filmes, ou, hipótese mais plausível, pelo facto de ser um violento fumador despreocupado.

(*) Mil desculpas a quem esqueci deliberadamente por considerar de outras selecções (Chaplin, Keaton, Lloyd, Linder, Langdon, Fritsch, Lars Hanson, etc..

terça-feira, dezembro 20, 2005

Vem aí o Código Da Vinci

Pobre Leonardo. E pobre de quem acreditar nas patranhas pseudo-históricas do filme, decalcado de um livro que é apenas isso: um livro.

Por falar nisso, alguém é capaz de editar Suetónio, e retirar da circulação aquela resma de romances "históricos" sobre Roma?

Os maiores actores do mudo: Emil Jannings (1884-1950)

Este actor alemão, de origem suíça, foi não só o maior actor alemão do mudo e do sonoro, como era considerado o melhor actor europeu do seu tempo. Depois de uma passagem inevitável pelas mãos de Max Reinhardt, foi com o papel que Lubitsch lhe deu em 1919, ao lado de Pola Negri, em "Madame Dubarry", que ganharia fama e proveito para os anos vindouros, em que tivemos interpretações magníficas em filmes não menos magníficos como "Otelo" (1922), os murnaunianos "Der letzte Mann" (1925), "Tartüff" (1925) e "Faust" (1926 ), "Variety" (1925, de E. Dupont) e os hollywoodescos "The Way of All Flesh" (1927, de Fleming) e "The Last Command" (1928, de Von Strernberg), tendo ganho com estes o primeiro Óscar da história da Academia. O sonoro fê-lo voltar à Alemanha por causa do seu mau inglês, e ainda bem que assim foi: "Der blaue Engel" (1930), a sua interpretação mais memorável, como Prof. Immanuel Rath. O declínio começou a partir daí e foi já com os nazis que recuperou o estatuto de estrela do cinema alemão. Mas foi por ter sido nomeado "Artista do Estado" por Goebbels, em 1941, que viria no pós-guerra a sofrer as agruras da vida, e a morrer cinco anos mais tarde, com cancro. Disse uma vez: "I think the motion picture industry is a stupid business and I despise acting the scenes in short snatches, one at a time. I hate this film work. I am disgusted with myself. On the stage I could never play a part unless I felt it with all my heart and soul".

"A Marquesa d'O" (1976) amanhã na Cinemateca, pelas 19H30

AA que me perdoe por entrar no seu território, mas acontece que a coisa merece aviso de 24h, pois se é sempre bom ver-se Rohmer, com Kleist (mesmo que adaptado) é "2 em 1".

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Os maiores actores do mudo: Conrad Veidt (1893-1943)

Conrad Veidt é um marco do mudo e do sonoro, mas não podia deixar de o mencionar como sendo "mudo" já que ele compôs, antes do seu fabuloso papel, do não menos fabuloso "Under the Red Robe" (1937), de Sjöström (Veidt diria a propósito "In this film I am doing something I've wanted to do since I began acting twenty-five years ago. I've wanted to play a dashing, adventurous role, with fights and excitement. But I was not permitted to do those parts before. I was always in those very sinister parts. I love playing those villainous roles, too, of course. But those roles are mostly mental. But in Under the Red Robe, I fight with swords, I swim a river, and ride a horse. I am always fighting duels at the slightest provocation. I don't mind what risks I take. I tell you, I am enjoying myself immensely!") um punhado de personagens mudas imortais: Richard Armostrong ("Opium", 1919), Cesare ("Das Kabinett des Dr.Caligari", 1919), o Marajá de Bengala ("Túmulo Índio", 1921), Orlac ("As Mãos de Orlac", 1924 ) e Gwynplaine ("O Homem que Ri", 1928). Veidt nasceu na terra do Sans-Souci e foi o maior ícone do Expressionismo alemão; parecia ter saído de uma história de Poe, e tinha uma memória prodigiosa que lhe permitia estudar e decorar a sua personagem para o filme inteiro, e não para este ou aquele take. Mas também era um espirituoso, e um espiritualista assumido, talvez por força da sua educação protestante bastante enraizada. O teatro de Max Reinhardt descobriu-o e Paul Leni levou-o para a tela, e ainda bem para Murnau, Paul Czinner, Karl Grune, Joe May e muitos mais. Morreu no Riviera Country Club, em Los Angeles, enquanto jogava o 8º buraco do circuito de golfe.

O novo Kong é um Kong dos nossos tempos...

Por muito que se estime King Kong de 1933 - e eu fã me confesso - há uma coisa que não se pode negar a Peter Jackson, que é ser ele o único realizador da actualidade que insiste num cinema que só as duplas Joe May & Lang e Cooper & Schoedsack foram capazes de eleger como sub-género de primeira categoria: o cinema de aventuras.

Não terá, que não tem, o golpe de génio dos autores de «The Most Dangerous Game» (para quando, Jackson, uma remake?), mas o cinema de Peter Jackson contagia qualquer um, por muito efeito especial que possa saturar os mais ortodoxos (e reconheço como completamente dispensáveis as sequências da corrida louca dos brontaussáurios, mais a dos insectos gigantes - charge a Jack Arnold? - mais as pinceladas pirosas com que pintalgou o romance bela-monstro).

Se este King Kong de 2005 perde em não ter Fay Wray (e quão empenhada está Naomi em igualá-la, mas aqueles eram outros tempos...) - e que bonito seria uma dedicatória à Screaming Queen! - , mais a poesia cristalina das justaposições de Cooper & Schoedsack, aquela música, e aquele preto e branco de cortar a respiração; por outro, este King Kong tem o prodígio da cor, que aliada ao state of the art consegue algumas cenas brilhantes como o naufrágio do cargueiro, ou uma Nova Iorque impressionante nos seus anos 30.

Reconheço que falei muito mais do filme de 1933, mas mesmo morrendo e caindo agora Kong de maneira muito mais banal, o melhor que se pode dizer deste filme de Jackson é que esta história continua a ser das mais belas e tristes que alguma vez foram filmadas.

Os maiores actores do mudo: Rudolf Klein-Rogge (1888-1955)

Partilhou com Lang pelo menos duas coisas: 10 variadíssimos mega-sucessos (como se diria agora) e ainda uma mulher, Thea Von Harbou, de quem também foi marido, antes do realizador o ter sido também. Pode não ter tido o impacte mundial de um Veidt ou de um Jannings, mas é uma das grandes referências do cinema alemão. As suas performances como Rotwang (em "Metropolis"), Átila (em "Die Niebelungen") e, sobretudo, como Dr.Mabuse (desde "O Jogador", às múltiplas sequelas que Lang realizaria seguidamente), valeram-lhe um lugar no Olimpo do Mudo; depois de ter tido bastante sucesso enquanto actor de teatro shakespeareano, alguns anos antes de ter algum sucesso por França, e muitos anos antes de ser entregue a papéis pouco mais que secundários, até se retirar nos anos 40 e morrer completamente esquecido em Viena, em 1955.

A menina das luvas

Sejamos claros, este «Shopgirl» seria pouco menos que mediano, não fora a presença de Claire Danes, em mais um dos seus passos, pé ante pé, em carreira que tem subido paulatinamente, sem quase se dar por ela (e não seria estranho que Claire figurasse na lista dos nomeados deste ano...).

Quanto ao filme propriamente dito, a ideia é engraçada mas demasiadamente usada e tornada a usar em Hollywood, por talentos como Lubitsch ou Borzage, por exemplo, para se poder dar os parabéns ao esforçado Steve Martin.

Martin quer ser mais do que actor, e isso só lhe fica bem, e os seus textos até funcionam. Já não se percebe porque razão o cinquentão ricalhaço tinha que ser tão frio e egoísta, e o jovem pobretanas, tão espontaneamente palhaço. Clichés jogando contra clichés? Talvez sim, ou talvez não.

Cabaz de Natal

DVD: Caixas D.W. Griffith (zona1) e Douglas Fairbanks (zona1) e as caixas ("nossas)" dos filmes de Gangsters, Terror e dos Irmãos Marx (capa verde).

Bandas sonoras: "5x2", "Cotton Club", "Mulholland Drive" e "Once Upon a Time in the West".

Livros: "Citizen Hughes", "Steve McQueen: Photographs", "Autobiografia dos Monty Python" e as monografias de Lotte Eisner sobre Murnau (1965) e Lang (1986), e as "Memórias", de Leni Riefenstahl.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Contagem decrescente para "Lady in the Water", o próximo Shyamalan

Os respectivos trailer e sinopse estão à espreita por , e já é grande a minha expectativa em redor de mais este produto fantástico do fantástico realizador de "The Village" (2004), desta vez às voltas com uma la motte-fouqueniana ondina.

Os maiores actores do mudo: Erich von Stroheim (1885-1957)

É um dos marcos do mudo, mas também o é do sonoro. É um marco como actor e como realizador. Para uns foi um filho da mãe de um arrogante, para outros um maníaco da perfeição. Para outros, ainda, um enfatuado que nunca conseguiu deixar de ser ridículo. Para mim é um pouco disso tudo e, por isso, um dos maiores génios da Sétima Arte. Além do mais foi um filme dele, «The Merry Widow» (1925) - que inaugurou o «meu» Odéon. Mas bastaria vermos alguns minutos de «Foolish Wives» (de 1922, em que reconstituiu em pleno plateau a praça do casino de Monte Carlo, teve 2.000 figurantes, e até caviar a sério para as filmagens), de «Queen Kelly» (de 1929. e do qual foi despedido por Swanson)ou de «Greed» (de 1924, cuja versão original tinha 9h de duração, e nela obrigou toda a gente a ir filmar ao Vale da Morte, para ser fiel ao romance base do filme) , para imediatamente nos apercebermos de quão sublime é o cinema deste vienense, que gostava de usar monóculo e que quando chegou à América, se apresentou como sendo o Conde Oswald Hans Carl Maria von Stroheim, quando era na realidade filho de um fabricante de chapéus de palha. Como actor, deixa marcas indeléveis em filmes como «A Grande Ilusão» (1937), de Renoir, em que representa com tal empenho a figura do oficial prussiano Rauffenstein que Goering, ao ver o filme, terá dito «Mas não há oficiais alemães assim!», ao que um jornalista francês terá respondido, «Infelizmente»), os «Disparus de Saint-Agil» (1938), de Cristian-Jaque, e «Sunset Boulevard» (de 1950, onde reecontraria Swanson, e onde ter-lhe Billy Wilder perguntado uma vez a razão por que Stroheim falava tão lentamente no filme, ao que o génio terá respondido: «para ficar o mais tempo possível no écran». Emigrado nos EUA, é com Griffith que entra no Cinema ao ser figurante na saga dixie de «Birth of a Nation» (1915). Muitos anos mais tarde rumaria até França onde marcou toda uma gama de filmes. De Hollywood disse um dia: «In Hollywood, you're as good as your last picture».

There's something in the fog!

Pouco há a dizer sobre este novo nevoeiro, senão que não se percebe como Carpenter aparece como produtor desta coisa, que se arrisca a fazer desaparecer da memória cinéfila um filme tão poderoso quanto o primeiro "The Fog" (1980). Só mesmo estando perdido no nevoeiro da falta de imaginação, e estando necessitado de dinheiro fácil.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Os maiores actores do mudo: Ramon Novarro (1899-1968)

Aliás Ramón Gil Samaniego, nascido em Durango, México, no seio de uma família emigrada espanhola, da classe média; foge de Villa e Zapata para L.A. em 1916, onde vive na pobreza, decidindo dar em dançarino, cantor (tinha uma boa voz) e pianista, até que o "Prisioneiro de Zenda" (1922), de Rex Ingram, o encontrou e "baptizou" (era para ser Navarro mas um erro dactilográfico assim o determinou) e com ele trabalhou ainda em "Scaramouche" (1923) e alguns outros. Estava encontrado um "Novo Valentino". Mas o seu nome ficará na história do mudo por incarnar Ben-Hur na assombrosa produção de Niblo (que só viria a ser estilhaçada pela de Wyler, muitos anos depois), e por contracenar com Norma Shearer na deliciosa comédia romântica "O Príncipe Estudante de Heidelberg", de mestre Lubitsch. Adaptaou-se facilmente ao sonoro, como se comprova vendo-o com Garbo, em "Mata-Hari" (1931) mas, sem que se saiba porquê, a sua carreira abrandou de ritmo e passou dos sucessos da MGM (onde chegara a ganhar cerca de 10.000 US$ por semana) a coisas insignificantes. Acaba os seus dias espancado em sua casa até à morte, em 1968, por dois prostitutos que julgavam encontrar imensa fortuna algures.

Por falar em suecos, hoje tive Garbo na caixa do correio

Agradeço do fundo do coração ao meu querido remetente JA, e aos 150 anos dos correios suecos: que beleza de sêlo de 10 coroas!

Ontem, parecia o vento do mudo

Ontem estava mau tempo para chinós, e tu e eu, minha Gish, lá em cima, parecíamos, mesmo sem areia a entrar-nos pela frestas, as personagens do fabuloso e metafórico "The Wind" (1928), do sueco Sjoström (prefiro o original ao hollywoodesco "Seastrom").

Well, there you have it. Beauty killed the beast, descubra as diferenças

Kong, em 1933, e em 2005 (a versão de John Guillermin não conta absolutamente para nada!).

Fay Wray vs. Naomi Watts.

Merian C.Cooper & Ernest B.Schoedsack (ver foto) vs. Peter Jackson.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Les Enfants du Paradis em Lisboa?

Foi há bocado, no Metro, a garotada gritando de carruagem para carruagem, metendo-se com os passeiros do cais defronte, e pondo as professoras de cabelos em pé. Sei bem como Carné os filmaria de bom grado, lá no alto do "Paraíso", na última galeria, já por cima do último balcão, em algazarra desenfreada, patifarias e brincadeiras. Mas não podia filmá-los em Lisboa, pois as salas aqui são o que são.

Les sorciers lorsqu'ils font de terrifiantes conneries, on accuse toujours l'apprenti. Estaria Jacques Prévert certo?

Os maiores actores do mudo: John Barrymore (1892-1942)

Chamavam-lhe "the great profile", a John Sidney Blyth; ao génio do palco e do écran, flho, pai e irmão de actores e figura central do clã Barrymore e que foi o primeiro americano a ser reconhecido em terras britânicas como actor shakespeareano (aliás, seria num Romeu e Julieta sonoro que viria a ser nomeado ao Óscar ... que nunca haveria de ganhar). Construiu, a par de Frederic March, um dos melhores "Dr. Jekyll and Mr. Hyde" (1920), e o terceiro (mas não melhor, esse é, na tela, o de Basil Rathbone) "Sherlock Holmes" (1922) de que há memória. Brilhou como um dandy, em "Beau Brummel" (1924). E, ao contrário de muitos outros, deu-se bem com o sonoro e até com o fulgor de Garbo, contracenando com ela num sublime "Grand Hotel" (1932), a partir da celebérrima novela de Vicky Baum. Contudo, viria a ser vítima de um mal comum a muitas outras estrelas: o álcool. Começou por se esquecer dos textos que tinha que memorizar, depois, o seu rosto e figura transformavam-se aos poucos e os filmes de impacto começaram a escassear. A carreira descia a pique por entre filmes de série-B. Morreu precocemente, aos 50 anos, vítima de pneumonia e cirrose. "A man is not old until regrets take the place of dreams", disse em certa ocasião.

O Príncipe Valente, junto à gare do Rossio

Ontem, ao descer as Escadinhas do Duque, dei de caras com José Vilela, responsável máximo pela reedição das 2244 pranchas (22 volumes em 6 anos!) de uma obra-prima da BD: «Príncipe Valente», de Hal Foster, cujas adaptações ao cinema têm sido pouco mais que pífias (a melhorzinha ainda é a do semi-aristocrata Hathaway - onde pára «Rommel, Raposa do Deserto», hein?-, de 1954 e com aquele imberbe Robert Wagner; e a coisa também ocorre com Flash, de Raymond, Tarzan, de Hogarth, Batman, de Kane, etc. - porquê? ). Pergunta rápida e imediata: "porquê a edição a preto e branco e não a cores?". Resposta, pensada: "Foster desenhava a preto e branco e, depois, a editora colorizava-a seguindo as indicações de Foster". OK. Mais adiante, fiquei também a saber que o 1º volume já está praticamente esgotado e que posso deitar fora os volumes da Asa, da minha infância, pois são uma fraude, a começar pelas debilidades no contraste claro-escuro e acabando na omissão de legendas! Por isso, já vou correndo em busca dos primeiros 3 volumes já reeditados, segundo pranchas originais, restauradas, e provas da própria hearstiana King Feature. Porque esperam?

terça-feira, dezembro 13, 2005

Uma vida inacabada, ou não?

"An Unfinished Life" talvez seja um filme mediano, feito dos lugares comuns de Lasse Hallström (dramas rurais estereotipados, ritmo lento, etc.) e vivendo às custas do imenso talento e carisma dos dois actores principais masculinos, Redford e Freeman; mas é de uma perfeita injustiça a indiferença com que tem sido tratado.

Porque é um filme de relações humanas perfeitamente reais, repleto de mal-entendidos, rancores e dramas pessoais, que custam a sarar e onde a casmurrice de uns parece ignorar a máxima: vida só há uma.

Na verdade, o filme tanto podia ser realizado por Hallström como não, que não fazia qualquer diferença. O que conta é a intenção e mensagem optimista, por mais insuportável que seja a inépica de Jennifer López para dizer uma única frase (o urso é mais expressivo!!).

Uma Casa Portuguesa, agora no Bairro Alto

Sábado passado eis que deparo com uma venda especial de Natal, na Travessa Poço da Cidade, em pleno Bairro Alto:

Trata-se de uma loja antiga, com visual e recheio novos, sob a batuta da Catarina Portas: "Uma Casa Portuguesa". Embora faltando ainda certos artigos "incontornáveis", como as "Pastilhas Elásticas Pirata", o creme depilatório "Billy", a pasta dentrífica "Binaca", o restaurador "Olex" ("Já viu um preto de cabeleira loura ou um branco de carapinha?"), ou o caderninho de significados da Primária, a verdade é que esta loja fez as minhas delícias e estou tentado a gastar uma série de euros em coisas como aquela magnífica caixa "Para Brincar", ou aqueles sabonetes e lavandas do nacional-cancionetismo. Alguém consegue resistir-lhes?

Os maiores actores do mudo: John Gilbert (1899-1936)

No auge da sua carreira, discutiu com Valentino o título de maior de todos, mas o álcool, a falta de dinheiro, os maus contratos, os conflitos com Louis B.Mayer, e o sonoro, deram cabo da vida do "great lover", nascido John Cecil Pringle . A carreira meteórica começa com a ajuda do realizador Maurice Tourneur, mas foi realmente com os grandes filmes mudos de King Vidor ("His Hour", de 1924, e "The Big Parade" (de 1925 e o filme mais bem sucedido do mudo ... até que foi levado por "E Tudo o Vento Levou" , em 1939), que atingiu o estatuto por que ficou conhecido. Depois veio o amor com Garbo, por força desse hino ao amor que é "Flesh and Devil" (1926), de Clarence Brown. Garbo e Gilbert andavam nas bocas do mundo (apelidados de "the two most beautiful people on earth") , e com razão. Mas era um choque de titãs e Garbo, não contente por o ter deixado de plantão na cerimónia de casamento, ofuscou completamente Gilbert e a sua carreira começa a descer até fazer parar o seu coração. Para a posteridade ficam os seus quase 100 filmes, a sua estrela no "Passeio da Fama", e um sêlo dos correios norte-americanos, de 1994.

Obituário: Richard Pryor (1940-2005)

Nesta coisa dos feriados, pés torcidos e fim-de-semana, confesso que me esqueci de referir a morte desse comediante que me fez rir em alguns filmes dos anos 70, sobretudo naqueles em que fez parceria com o já também desaparecido Gene Wilder. Foi símbolo de uma certa "marginalidade" ou, pelo menos, de uma acentuada diferença. Afirmava ter sido educado num bordel (a mãe era prostituta e o pai proxeneta) e deixa viúva (com quem entretanto re-casara) e 5 divorciadas, e muitas afirmações polémicas. O programa "Ed Sullivan Show" deu-lhe o "empurrão" inicial e a partir daí foi sempre a subir. Passou por 3 enfartes do miocárdio, sendo o último fatal, certamente potenciado por uma debilidade resultante da esclerose múltipla que o afectava desde há 19 anos!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

-Why would a man leave his apartment three times on a rainy night with a suitcase and come back three times?

-He likes the way his wife welcomes him home.



Sexta-feira passada foi a minha vez de protagonizar "Rear Window" (1954). Sem gêsso nem binóculos (os meus são de ópera, em madre pérola, dos anos 20), mas por culpa daquele 4º Esqº da Avenida Madrid, que me fez torcer o pé e agora está por um fio.

"Broken Flowers", o último a rir é o que ri melhor

"The Private Life of D.Juan" (de Korda e com um sublime Fairbanks, sonoramente cansado), que Bill Murray vê na Tv, dá o mote a este filme de amores quebrados, (im)perfeitos, que se juntam ninguém sabe como (alguém escreveu aquela carta? quem foi? todas? ninguém?), para se vingarem do despotismo de um amante diletante.

Jarmush filma muito bem os diálogos, dentro dos seus rótulos/sketches pré-definidos, e Bill Murray compõe na perfeição mais uma das suas personagens ultimamente quasi mudas (as cenas de flirt a Sevigny e à filha de Stone são de antologia) , liderando ao mesmo tempo um elenco de ex-amantes de se lhe tirar o chapéu.

No final, temos um D.Juan completamente perdido, que jamais saberá o que lhe aconteceu e como sair da situação. Estará arrependido? Será incorrigível?

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Tristram Shandy poderá dar um filme?

Será que «9 Songs» deu tamanha pica a Michael Winterbottom, de modo a ele ser capaz de filmar os "infilmáveis" livros da "Vida e Opiniões de Tristram Shandy", do rabelaisiano Laurence Sterne? Duvido. Neste momento leio o capítulo sobre "bigodes", e é-me impossível imaginar tal coisa. Espero para ver...

Ontem foi a ante-estreia nova-iorquina

Por cá, será para a semana. Eu já declarei e volto a declarar: sou e serei sempre fiel a Fay Wray e ao fabuloso filme de 1933, da dupla E.Schoedsack e M.Cooper.

Portalegre está de parabéns

com 1ª Mostra de Cinema Mudo!! Pela amostra dada, a escolha é criteriosa. Mas gostava que se tivessem lembrado de rir com Arbuckle, Langdon, Linder, Lloyd, sempre esquecidos por estas ocasiões.

Sabe bem voltar a casa!!

Ao almoço, sou recebido com In My Solitude, na voz de Nina Simone (culpa de "Before Sunset"?). À tarde, pelo violoncelo de Suggia (e isto?), tocando Haydn (culpa de Egoyan e de Yo-Yo Ma?).

Os maiores actores do Mudo: Douglas Fairbanks (1883-1939)

Sobre Fairbanks pouco há a dizer: era um actor com uma entrega notável, de uma agilidade e vigor incrivelmente electrizantes, e de um carisma fora de série. Não usava duplos, entrou tarde para o cinema (aos 31 anos) e não foi o sonoro que o matou, ao contrário do que por aí se diz (como se comprova vendo o impressionante "The Private Life of D.Juan", de 1934). Foi empregado de uma firma de sabões e genro de sogro milionário. Fundou a United Artists, com Griffith, Pickford (com quem casou e com quem partilhou a primeira mansão a ser construída em Beverly Hills, a «Pickfair» ) e Chaplin, e fundou e presidiu à Academy of Motion Picture Arts and Sciences (de onde vêm os Óscares), bem como o primeiro grande cinema na Hollywood Boulevard. Venerava Teddy Roosevelt. Trabalhou com (ou fez trabalhar) realizadores hoje venerados, como Allan Dwan, Fred Niblo, Alexander Korda ou Raoul Walsh, em filmes de aventuras e acrobacias. Filmes indispensáveis? "The Mark of Zorro" (1920), "The Three Musketeers" (1921), "Robin Hood" (1922), "The Thief of Bagdad" (1924), "The Black Pirate" (1926) e "The Iron Mask" (1929), onde ganhava como ordenado cerca de 40.000 USD. Está enterrado, com seu filho, junto à Catedral Mausoléu do Cemitério Hollywood Forever, em LA (ver foto aqui).

"Don Kihot", de Gregori Kozintzev, 6ª F, na Cinemateca

A par da de Pabst (com uma prestação notável do notabilíssimo baixo russo Feodor Chaliapin), a versão do soviete Kozintzev (realizador especializado em adaptações de conhecidos bailados e de literatura clássica), de 1957, é considerada a melhor a ser feita sobre a obra máxima de Cervantes (a versão atribuida a Welles não conta). Por isso, e por Tcherkassov, vale a pena ir até à Cinemateca vê-la, mesmo que a cópia a exibir tenha 7 minutos a menos.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Os maiores actores do Mudo: Rodolfo Valentino (1895-1926)

Enquanto prossegue ali ao lado a votação (de multidões) para a maior actriz do mudo, irei falando aqui dos maiores actores que as acompanharam, começando pelo maior de todos, Valentino, e chamando a atenção para o magnífico sítio mencionado em epígrafe onde até se podem visionar excertos de filmes caseiros.

O seu legado é mítico como primeiro sex symbol, amante latino e estrela da 7ª Arte, ainda mais mítico do que o seu imponente funeral (com inúmeras peripécias desde o desmaio de Pola Negri sobre o caixão do actor, passando por um rol de suicídios, até ao rumor de que quem estava a ser enterrado era um Valentino de cêra, a fim de se proteger o original dos fãs mais devotos! ), até hoje só talvez comparado ao de JFK.

O sucesso começou no dia em que o emigrado Rodolfo Pietro Filiberto Raffaello Guglielmi saltou para a tela em "A Society Sensation" (1918). E o fim começou com úlceras rebentadas de tal forma que a operação urgente foi só abrir e fechar, até à agonia final. Pelo meio ficou o maior mito de sempre, e alguns filmes imprescindíveis, como "The Four Horsemen of the Apocalypse" (1921), de Ingram, "The Sheik" (1921) , "Blood and Sand" (1922), de Fred Niblo, "Monsieur Beaucaire" (1924) , "The Eagle" (1925), de Clarence Brown, e "The Son of the Sheik" (1926). Em 2004, foi descoberto o filme "Beyond the Rocks", de Sam Wood (em que contracena com Swanson), que se julgava perdido, pelo que foi projectado na edição deste ano de Cannes , mais de 80 anos depois da sua estreia. O mito mantém-se e ainda bem.

Curiosidades #1: o amigo Fritz de Fellini

Directamente do magnífico sítio da fundação que leva o nome do genial autor de "Otto e Mezzo" (1963), surge este relato do tempo da sua juventude, em que o sentido cénico da pantomina já estava presente:

"Nel frattempo (1943), dentro Roma "città aperta", Federico vive la sua nuova condizione coniugale da clandestino, legalmente inesistente e privo delle tessere per i generi di prima necessità. Egli infatti era, come molti giovani della sua classe, in una posizione irregolare rispetto alla chiamata alle armi.

Esce di casa il meno possibile: in previsione di perquisizioni dei nazisti o della polizia, una credenza è stata collocata nel vano di una finestra per creare una specie di ingenuo nascondiglio.
Tuttavia il 29 ottobre, passando da Piazza di Spagna Federico è coinvolto in un rastrellamento e obbligato a salire su un camion tedesco. Si salva con uno spudorato espediente, una vera 'gag' felliniana, fingendo di riconoscere un ufficiale della Wehrmacht mentre il camion percorre via del Babbuino.

Salta giù gridando "Fritz, Fritz!", agitando le mani, abbraccia l'interdetto germanico e conclude la pagliacciata con un gesto di scusa. Intanto il camion si è allontanato; l'ufficiale non ha capito niente e Federico corre a rifugiarsi nella parallela via Margutta, accasciandosi a terra senza fiato
."

Perdoem-me qualquer coisinha mais sobre Emmanuelle

Estas coisas do cinema provocam em mim uma inevitável associação de ideias: ao mencionar Emmanuelle Devos, por causa do filme de Desplechin, veio-me à cabeça a homónima bela criatura de 1974 protagonizada pela holandesa Sylvia Kristel (aliás, coisa curiosa, a holandesa também me aparece à frente sempre que vislumbro algo de «O Amante de Lady Chatterley»). Vieram-me à cabeça as Seychelles (onde foi rodado o clássico erótico - uma porno-chachada, para muitos) e aquela cadeira de verga de imenso espaldar (que se mantém exposta no local e é atracção turística, inclusive por um nosso ex-Presidente!) e veio-me à cabeça este magnífico tema musical, da autoria de um inspirado Pierre Bachelet:

"Mélodie d'amour chantait le coeur d'Emmanuelle
Qui bat coeur à corps perdu
Mélodie d'amour chantait le corps d'Emmanuelle
Qui vit corps à coeur déçu
Tu es encore
Presque une enfant
Tu n'as connu
Qu'un seul amant
Mais à vingt ans
Pour rester sage
L'amour étant
Trop long voyage

Mélodie d'amour chantait le coeur d'Emmanuelle
Qui bat coeur à corps perdu
Mélodie d'amour chantait le corps d'Emmanuelle
Qui vit corps à coeur déçu

L'amour à coeur
Tu l'as rêvé
L'amour à corps
Tu l'as trouvé
Tu es en somme
Devant les hommes
Comme un soupir
Sur leur désir

Tu es si belle
Emmanuelle
Cherche le coeur
Trouve les pleurs
Cherche toujours
Cherche plus loin
Viendra l'amour
Sur ton chemin

Mélodie d'amour chantait le coeur d'Emmanuelle
Qui bat coeur à corps perdu
Mélodie d'amour chantait le corps d'Emmanuelle

Qui vit corps à coeur déçu
"

"Rois et Reine", mas que grande filme!

Não fora a talvez excessiva duração de «Rois et Reine» e estaríamos perante um filme imaculado. Para quem, como eu, «apenas» gostou de «Ester Kahn», este filme é uma autêntica revelação sobre o grande talento que Arnaud Desplechin é de facto. A sua filmografia passada passa assim a obrigatória!

É de facto notável como o cineasta consegue desenrolar, a partir da mitologia grega e das Escrituras, e de uma gravura de antiquário, toda uma alegoria sobre o papel da mulher como abelha-mestra nesta sociedade de homens-zângãos. E não será só isso a humanidade?

Uma mulher plena de força, mas uma raínha frágil perante o fulminante testamento-diagnóstico do pai (aliás, a sequência teatral em que o pai depõe é a mais notável de todo o filme, chegando a ser comovente de tão brutal), cuja folha arrancada do tomo se lhe agarra à barriga como um sudário. E um, dois, três, uma infinidade de homens aparentemente débeis (só servem para propagar a espécie e morrer?) mas alimentados pela chama da loucura (genial Mathieu Amalric!).

São mesmo assombrosas as divisões dramáticas em que a estrutura narrativa do filme se vai abrindo e fechando, à medida que a acção decorre, embora longe do fulgor rítmico de um Ophuls, por exemplo. Emmanuelle Devos, essa está insuperável como sempre, e talvez agora passe a ser actriz principal.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Forgive me, Majesty. I am a vulgar man! But I assure you, my music is not.

Hoje, há exactamente 214 anos, morria um dos maiores génios que a Humanidade foi capaz de gerar: Mozart. E em 27 de Janeiro de 2006, daqui a pouco mais de um mês, comemorar-se-ão os 250 sobre o seu nascimento. No cinema já estamos falados, e em letras maiúsculas: "Amadeus" (1984). Na rádio, na Antena 2, teremos duas noites de Sábado do "Música Aeterna", a não perder. Veremos o que Lisboa e Portugal têm a dizer sobre o assunto ... e se nada disserem, é caso para dizermos como Karajan aos seus músicos quando o tom e o tempo dos ensaios sinfonias 39ª, 40ª e 41ª não batiam certo: NEIN, NEIN, NEIN.

Beeing there (1979) perto de mim

Num espaço verde por onde passo há coutos de árvores, a relva é plantada em pó verde na terra, e o rapaz eslavo de serviço à junta de freguesia local, varre as folhas caídas usando maquinete demoníaca. Alguém, s.f.f., vai buscar Peter Sellers, aliás, Chance the Gardener, para ensinar a esta gente o que é ser-se jardineiro?

Um nibelungo no Metropolitano?

Quem seria aquela figura austera, de faces esculpidas, olhar duro e intransponível que, encostado à parede de uma carruagem do duplo-decímetro dos nossos transportes públicos, mais parecia Hagen defendendo Kriemhild dos hunos? Vestes cinzentas escuras, em sentido, segurando o imenso guarda-chuva como se de uma acutilante espada se tratasse? Eu. E nem Lang faria melhor.

Exorcismos por explicar

Nestas coisas de filmes sobre exorcismos e demais expurgas demoníacas nunca percebi duas coisas:

1. Por que razão os demónios só possuem elementos jovens, e do sexo feminino?
2. Por que teimam em rodar mais filmes sobre o género, depois de Friedkin ter estilhaçado o género com «The Exorcist»?

Mas vamos a este «Exorcismo de Emily Rose»: o filme nem está mal feito, e tem uma abordagem de que não se estava à espera, já que o terror nele é deixado para segundo plano, e se aposta na visão jurídica-teológica do assunto. Mas uma coisa é cada qual ser livre de acreditar no que lhe der na gana, outra, bem diferente, é enfiarem-nos pelos olhos adentro toda a teoria, pese embora a história de Emily seja semi-verídica (ver processo Anneliese Michel (1952-1974), em Würzburg) .

O que falha então? Talvez a mãozinha hollywoodesca, que trata tudo da mesma moeda: as coincidências com as possessões, a ciência médica com a para-normalidade, o despertador electrónico, que teima em parar às 3h da manhã, com as Sagradas Escrituras; de modo a que tudo seja acompanhado das pipocas do costume. O que seria deste filme se tivesse sido rodado na Europa?

Um filme que não faz mal a ninguém e sempre anima

«Just Like Heaven» é um filme que podia passar perfeitamente por uma daquelas comédias dramáticas para levantar o moral, especialidade absolutíssima de Frank Capra.

O filme é tocante, mesmo para quem tenha coração de gêlo, ou preto como um tição. É apropriado ao espírio natalício e é a prova provada de que os bons argumentos podem ser os mais simples, e que o limbo, afinal, sempre existe.

Só que, infelizmente, nem Marc Waters é Capra, nem Whitherspoon é Jean Arthur, nem Ruffalo é James Stewart (apesar de ambos estarem muitíssimo bem). Senão, a obra-prima estaria garantida.

Conversa ao derredor de "Sunrise" (1927)

Ontem, num Magnólia de Lisboa, a seguinte troca de palavras entre duas amigas na casa dos 40, a propósito de um dos melhores filmes de sempre:

- Sabes, fui ver um filme sub-mudo!
- Quê? Não se fala?
- É um filme dos anos 40 ou 50...
- Mas os actores são surdos-mudos?

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Harry Potter (o filme) já aborrece

«Harry Potter e o Cálice de Fogo» é o pior dos filmes sobre as aventuras da personagem criada pela escritora Rowling, entre «copy paste» de personagens da mitologia nórdica, bizarrias da Union Jack e sumo mágico de coisas tão simples como «Os Cinco».

Julgo mesmo que este filme sofre já, não da puberdade, mas do síndrome dos filmes de 007 a partir da altura em que o filão Fleminh se esgotou: ou pára já no novo livro, ou entra em circuito-fechado, sem nada de novo, desmaiado de tão sem chama.

Os sinais estão à vista, apesar da operação de lifting laboratorial: a história tem de recuperar personagens enterrados; os efeitos especiais tornam-se omnipresentes; há pózinhos de picante (iniciação à sexualidade, maior carga gótica, por exemplo) a fim de atrair (e perder, em sentido oposto) mais espectadores, etc.

Este episódio da saga cinematográfica de Harry Potter vale por Miranda Richardson (por coincidência, o realizador Newell foi responsável por um dos maiores papéis de Miranda, em «Dance with a Stranger»), e pela sua personagem desconcertante e imprevista neste filme sonolento. O resto é jogo de computador.

Ontem aconteceu: Woody Allen perfez 70 anos ...

E vai estar em Lisboa, no CCB, ele e a sua NEW ORLEANS JAZZ BAND, no dia 27 de Dezembro, para 80 minutos de jazz e clarinete, no âmbito de uma tournée europeia. Os preços para ver e ouvir o clarinete do homem que afirma "My one regret in life is that I am not someone else" são: Cadeiras de Orquestra € 90,00; 1ª Plateia € 85,00; 2ª Plateia € 80,00; Laterais € 55,00; Camarotes Centrais € 65,00; Camarotes Laterais € 60,00; Camarotes Laterais nº 1 e nº 2 € 55,00 (menor visibilidade); 1º Balcão € 45,00; 2º Balcão € 35,00; Balcão Lateral € 40,00 e Galerias € 30,00. Se não nos virmos por lá, Woody, parabéns, e obrigado por uma série de coisas, a começar por "Hannah and Her Sisters" (1986).

Anteontem aconteceu: Yo-Yo Ma em Lisboa

Mas como a naftalina da Gulbenkian continua a funcionar em circuito fechado, quando dei por ela, já o concerto estava esgotado. Como vingança, sempre há o fabuloso filme "Yo-Yo Ma Inspired by Bach" (1997), do canadiano cineasta (também virtuoso) Atom Egoyan, que a RTP passou em tempos.